Lula já discute retaliações ao tarifaço

Em termos de retaliações, assessores do presidente Lula especulam que poderemos romper patentes de produtos norte-americanos, ou estabelecer prazos mais longos para validação no país.

Por Tales Faria

Diplomatas acreditam que a aproximação do Brasil com os Brics é que realmente motiva Trump a impor altas tarifas contra o país.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse a assessores que "não vai ter tarifação do [Donald] Trump sem resposta brasileira". Lula afirma que o Brasil precisa "se dar ao respeito" e que é isso que ele fará, independentemente das pressões para ser mais flexível.

Ao mesmo tempo em que pediu estudos para minorar estragos do tarifaço dos EUA, Lula determinou que sejam levantadas propostas de reação às medidas impostas por Trump.

Já há várias opções em discussão, mas nada está decidido. Parte do governo teme que uma reação dura promova uma escalada na guerra comercial.

O presidente brasileiro resolveu esperar para ver o que Trump fará após o dia 1º de agosto, data estabelecida para início da vigência da nova tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros.

Essa tarifa é considerada impeditiva para negócios: uma sanção mais do que comercial contra o Brasil. Trata-se de uma sanção política, já que Trump citou decisões da Justiça brasileira contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como a motivação.

Em entrevista publicada neste domingo (27) no jornal inglês "Financial Times", o assessor internacional da Presidência da República, Celso Amorim, disse que as atitudes do presidente dos EUA obrigam o Brasil a diversificar suas relações comerciais:

"O que está acontecendo está reforçando nossas relações com os Brics, porque queremos diversificar nossas relações e não depender de nenhum país só."

Ele ressaltou que o Brasil também pretende fortalecer vínculos com países da Europa, Ásia e América Latina.

Os diplomatas acreditam que a aproximação do Brasil com os Brics é que realmente motiva Trump a impor altas tarifas contra o país.

Para Trump, esse bloco tende a se tornar área de influência da China, a grande adversária dos EUA na geopolítica mundial. O ataque ao Brasil seria um recado ao grupo.

A diplomacia brasileira acredita que as dificuldades encontradas pela União Europeia com os EUA levarão aquele bloco a também diversificar seus mercados, buscando maior aproximação com o Mercosul e até os Brics.

Em termos de retaliações, assessores do presidente Lula especulam que poderemos romper patentes de produtos norte-americanos, ou estabelecer prazos mais longos para validação no país.

Também estão sendo estudadas medidas em relação às chamadas big techs. Países como Espanha, França, Itália, Canadá e Áustria instituíram modelos de imposto sobre serviços digitais das big techs.

Essas medidas desagradam o governo Trump, que as incluiu nas negociações para diminuir tarifas se as big techs forem poupadas. O Brasil colocaria a ameaça às big techs na mesa de negociação com os EUA.