Sem o núcleo pensante original, governo petista virou uma corte de benesse e sem rumo
Cláudio Magnavita*
Qual a chance da economia brasileira se recuperar nos próximos 18 meses? Esta é a pergunta que vem sendo feita pelas cabeças pensantes da política brasileira.
O grande erro do governo Lula III foi apostar no milagre econômico e transformar o "príncipe" Fernando Haddad em Fernando Henrique do Itamar. Foi o sucesso do Real que colocou FHC como o candidato natural à sucessão do mineiro. O fiasco da condução da economia no Lula III não só abate a reeleição do próprio presidente e tritura o FH do PT.
Jair Bolsonaro deixou a economia com Paulo Guedes e entregou ao Centrão a relação com o Congresso. Ele perdeu a reeleição para ele mesmo e, principalmente, ao envolvimento político do STF/TSE no processo eleitoral.
O PT nunca permitirá que o Centrão assuma a relação com o Congresso e com a chegada do ano eleitoral o sarrafo das negociações fica mais alto.
Popularidade em queda, o "velho" não consegue entusiasmar e falar fora da bolha. O assistencialismo funciona no Norte e Nordeste, mas fica longe dos maiores colégios eleitorais.
A cartola de coelhos mágicos do PT já não entusiasma e a perda do apoio dos formadores de opinião da grande mídia, no Sudeste, principalmente, se deve à inanição da Secretaria de Comunicação que não mais jorrou as generosas verbas do Lula I e Lula II. O novo czar da Comunicação, Sidônio Palmeira, só aprimorou o pensamento equivocado dos investimentos nas redes sociais.
O governo Bolsonaro acabou com a farra da publicidade e os viúvos do lulismo na mídia ficaram ainda mais viúvos do governo federal do Lula III. As manchetes dos veículos regionais fortes e do Sudeste, sobre a queda de popularidade, traduzem um gosto de vingança pela torrente de publicidade que não veio.
Foi exatamente estes veículos, principalmente os impressos, que construíram a imagem do Lula I e Lula II, com um porém: para evitar o impeachment do Mensalão, os cofres da publicidade federal fluíram igual a cocaína nas veias destes órgãos de imprensa. Projeto de milhão virou trocado.
Sem apoio fidelizado do Congresso, sem o "apoio" da mídia abduzida e com a economia desorganizada, o cenário para 2026 é caótico.
Não houve também renovação nos quadros do PT. O governo Lula III e o governo Dilma II são irmãos siameses. Para piorar, o núcleo estratégico e pensante do PT foi escabreado. Sem Luiz Gushiken; sem José Dirceu; sem Gilberto Carvalho; sem Mares Guia; sem Márcio Thomaz Bastos; sem Tarso Genro; e com dezenas de outros estrategistas afastados, o que sobrou? Um Rui Costa carregando um passivo da sua sisudez; um Alexandre Padilha que só fica pensando na saúde e na sua saúde; com Gleisi Hoffmann batendo sem dó na economia; com um presidente do Banco Central aumentando os juros; e uma legião de presidentes de partidos querendo aumentar o seu quinhão; o que sobrou para Lula III?
Os governadores irão derrubar os vetos do Propag, fato que vai gerar um enorme desgaste político ao Presidente, que calculou mal a possibilidade de aproximação com os governadores independentes.
No plano internacional, no qual Lula III tem se dedicado para construir um lugar na história, criou um tropeço com a vizinha Argentina e com o parceiro histórico, os Estados Unidos. A virada à direita está sendo boa para os hermanos e vai ser boa para os EUA. Sobra uma Europa reativa e em guerra. Vale lembrar o viés protecionista do grande "parceiro", Emmanuel Macron, rendido aos agricultores franceses.
A eleição de 2026 vai redesenhar um Congresso novo e um Senado muito mais à direita, será o antídoto democrático à ditadura da toga. O Senado acabará com os excessos do Supremo. Aliás, é exatamente o ministro do STF, que veio do Senado, o grande antagonista dos embates com o Legislativo. Atuação de Flávio Dino é sempre creditada à orientação do Lula III.
A felicidade pessoal trazida pela balzaquiana Imperatriz do Alvorada tirou do Lula III o prazer orgasmático que a política lhe trazia e de seduzir políticos com uma conversa de encantador de serpentes. Ele deixou de ser onipresente no jogo de sedução do parlamento e de compreender o que seria necessário para ter uma base fidelizada.
Hoje já não se fala mais de divisão radical entre direita e esquerda. As eleições de 2024 desenharam outro Brasil, é só olhar os prefeitos eleitos nas maiores capitais.
O nome de Tarcísio de Freitas desponta como o de um homem honesto, fiel aos seus padrinhos e trabalhador. Em São Paulo, está sendo construída a imagem de um homem público que está no cargo como servidor público, longe das vaidades palacianas e desprovidos de gestos de realeza. Os paulistas gostam de governantes que podem ser tratados como um síndico do prédio ou capataz de suas fazendas, principalmente a elite endinheirada. É um figurino que está se alastrando para outras cidades, abandonando o papel de vice-rei que era destinado aos governadores de outrora.
É neste contraste de uma corte em decadência, com sua majestade Lula III e sua imperatriz, que o cenário de 2026 está sendo desenhado. No fundo, Jair Bolsonaro quebrou esta liturgia do cargo, com seu jeitão popular, cervejinha, pastel e sandalhão com camisa do Palmeiras. Para o imaginário popular, Lula e Janja restauraram os ritos de uma realeza que não funciona mais. É só ver os gastos da primeira imperatriz e os ritos palacianos, no qual não faltam picanha e nem camarão. Com a economia refletindo no cardápio minguado do povo, não se consegue ser popular com as demonstrações de gastos exagerados, jatos, suítes de luxo e um governo especialista em criar inimigos entre seus próprios aliados. Sem seu núcleo pensante original, o governo virou um porta aviões sem rumo, pilotado por sua majestade Lula III.
*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã