Falar sobre a história da política brasileira e a evolução do jornalismo no país após a década de 1950 é, obrigatoriamente, falar de Wilson Figueiredo. O capixaba que adotou Minas Gerais com o coração e escolheu o Rio de Janeiro para morar comemorou 100 anos de vida no último dia 29, sendo atualmente um decano dos jornalistas no Brasil. São oito décadas de trabalho, sucesso e muita história para contar, desde quando ele deixou a pequena Castelo, no sul do Espírito Santo, para brilhar em alguns dos mais relevantes jornais do país.
Antes de deixar a cidade natal, Figueiredo cogitou cursar faculdade de medicina. Mas, para o bem do jornalismo político brasileiro, a ideia não evoluiu e, em 1944, aos 20 anos, ele foi "tentar a vida" em Minas Gerais. Lá, pelas mãos do amigo e jornalista Carlos Castello Branco, o Castelinho, iniciou sua trajetória profissional em uma agência de notícias ligada ao jornal Estado de Minas. Foi a linha de largada de quase 80 anos de dedicação exclusiva ao bom jornalismo de um profissional curioso, de faro apurado, com texto impecável e muito jeitoso para abordar e conquistar as fontes mais poderosas da República.
Se é possível conhecer uma pessoa pelos amigos que ela faz, o que dizer de alguém que foi próximo e querido de brasileiros como Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Odilo Costa, filho, Hélio Peregrino, Mário de Andrade, Nelson Rodrigues, Rubem Braga, entre outros? Diz-se que este último, inclusive, foi quem apelidou Wilson Figueiredo como "mineiro do litoral" - aquele que não nasceu em Minas Gerais mas que, por toda a vida, levou Minas dentro ele. E segue levando...
Wilson Figueiredo é raro e múltiplo. Escreveu poesias, lançou livros, foi repórter, redator, colunista, editor, cronista e editorialista de grandes jornais brasileiros. Tudo isso com competência de sobra e o reconhecimento de seus pares e, principalmente, de fiéis leitores e amigos que fez ao longo de sua vida profissional. Além de "mineiro do litoral", ganhou também o carinhoso apelido de "Figueiró", usado pelos mais íntimos.
Em Minas Gerais, por 13 anos, ele viveu e trabalhou nos municípios de Raul Soares, Divinópolis, Montes Claros, Uberaba e Belo Horizonte. Quando se deu conta, "virou mineiro". Chegou ao Rio em 1957, e trabalhou nas redações do lendário jornal Última Hora, de Samuel Wainer, e de O Jornal, de Assis Chateaubriand. Mas foi no Jornal do Brasil que Wilson Figueiredo construiu uma carreira invejável, brilhando ao lado de estrelas do jornalismo como Odylo Costa, filho, Jânio de Freitas, Amílcar de Castro, entre outros que fizeram fama em grandes veículos da imprensa brasileira. Fama que "Figueiró" também usufruiu ao longo dos 45 anos de permanência no JB, quando entrevistou e escreveu sobre as mais importantes personalidades da política brasileira - sem jamais perder a humildade, o bom humor e a capacidade de estar aberto a conhecer o novo e tudo aquilo que está por vir.
No Jornal do Brasil, Wilson Figueiredo exerceu os mais diferentes cargos. E foi, ao mesmo tempo, aluno e professor. O reconhecimento profissional não impedia que ele estivesse sempre aberto a aprender com os mais velhos e também com os mais jovens, que o viam como um querido e talentoso mestre. Bom de conversa, espirituoso, com inteligência e bom humor acima da média, o capixaba que "virou mineiro" e escolheu o Rio para morar tem em seus textos bem construídos uma fonte preciosa e fidedigna para quem pretende conhecer e entender a história política do Brasil principalmente após a década de 1950.
Aos 81 anos, um novo desafio
Figueiredo deixou o JB após 45 anos de muito trabalho e de muito sucesso. E quem esperava que o "velho jornalista" fosse para casa descansar viu um homem de 81 anos iniciar um novo desafio: convidado pelo empresário Francisco Soares Brandão - mais conhecido como Chiquinho Brandão, sócio-fundador da FSB Comunicação - ele passou a integrar os quadros da agência. De 2005 a 2020, "Figueiró" trabalhou diariamente no escritório de Ipanema, seja escrevendo artigos ou dando toques de refino em textos escritos por colegas décadas mais jovens. Passar por sua mesa e ter alguns minutos de prosa com o "Seu Wilson" era motivo de satisfação e alegria para "os meninos e as meninas" que eram seus companheiros de trabalho.
Biografia
Em 2011, o empresário Chiquinho Brandão planejava produzir um livro sobre os 30 anos da FSB. Em um almoço, falou sobre a ideia com o jornalista Ancelmo Gois, que sugeriu que ele patrocinasse a edição de um livro sobre a vida e a carreira de sucesso de "Figueiró". E assim nasceu a deliciosa biografia "E a vida continua - A trajetória profissional de Wilson Figueiredo" (Editora Ouro sobre Azul), um personagem real e privilegiado que acompanhou o fim do Estado Novo, registrou a Constituinte de 1946, escreveu sobre o governo e a tragédia de Getúlio Vargas, esmiuçou o governo de Juscelino, as idiossincrasias de Jânio Quadros, e teve um olhar aguçado para os anos de ditadura e a reconstrução da democracia que Wilson tanto defendeu.
Com a pandemia da Covid, em 2020, Wilson Figueiredo teve que se privar do convívio diário na agência de comunicação. Desde então, ele segue no quadro de colaboradores da FSB, mas agora exclusivamente sob os cuidados da família e usufruindo dos bons amigos que conquistou ao longo de uma vida. Vida que merece ser manchete de capa no jornalismo brasileiro.
Em celebração ao centenário, a FSB lançou uma edição comemorativa do livro 'Os mineiros, modernistas, sucessores & avulsos', lançado por Figueiredo em 2018.