Por: Cláudio Magnavita*

Coluna Magnavita | Os fatos e bastidores da crise que levaram Castro a retomar a Secretaria de Meio Ambiente

Cláudio Castro (d) com Thiago Pampolha (e) na Sapucaí | Foto: CM

O governador do Rio, Cláudio Castro, é conhecido pela sua infinita paciência e não se deixa pressionar por terceiros. Ele decide. Decide no seu tempo e com a sua consciência. Não é um político que age e pensa com o fígado. Foi desta forma que enfrentou uma interinidade, um pós-impeachment e concorreu à reeleição, vencendo no primeiro turno.

Esta introdução é necessária para compreender o desfecho dos últimos movimentos que resultaram na exoneração do seu companheiro de chapa e vice, Thiago Pampolha, da Secretaria de Meio Ambiente. Os dois conversaram nesta segunda, 04, por 40 minutos. Conversa franca e dura. O clima do encontro foi prejudicado pela intempestividade de alguns colunistas que anteciparam a demissão sem que houvesse a conversa final e decisiva.

Pampolha virou vice-governador após um embate de Castro com o União Brasil. O candidato de Antônio Rueda era Vinicius Farah, então deputado federal, ex-prefeito de Três Rios e ex-secretário de estado. Farah dormiu vice-governador e acordou na bacia das almas. Literalmente, o nome de Thiago foi imposto goela abaixo do diretório regional do partido e foi aceito, apesar das dúvidas de fidelidade partidária.

Agora, a mudança de legenda de Thiago Pampolha causou, para Cláudio Castro, o enorme desgaste no União Brasil, já sob nova direção no Rio. O receio do vice era ficar preso com a decisão que está nas mãos do ministro Luís Roberto Barroso, no STF, uma medida que estende para os cargos majoritários a fidelidade partidária do legislativo. Ele foi para o MDB apenas comunicando ao seu líder e companheiro de chapa, sem uma participação direta no processo.

Quem estava no comando do União Brasil? O deputado estadual Rodrigo Bacellar, que preside a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O clima ficou acirrado. O vice em clima de guerra, ou o presidente da Alerj em clima de guerra com o vice, a partir de diferentes pontos de vista.

Ainda em 2023, em uma reunião de secretariado, o governador Cláudio Castro surpreendeu a todos valorizando o seu vice. "Tratem Thiago como se fosse eu", ordenou. Foi o ápice de um entendimento que começou a degringolar após os problemas enfrentados por Castro, a partir de requentamento de velhas denúncias.  

Inicialmente candidato ao Senado, Castro teria de se descompatibilizar 10 meses antes do término do mandato. Em uma ainda longínqua eleição de 26, Thiago, como governador, disputaria a reeleição com a máquina na mão. Este era o foco de um dos problemas. O deputado Rodrigo Bacellar também é um candidato natural à sucessão estadual, disputando sentado na cadeira de presidente da Alerj, já que possui direito a uma reeleição.

Na hipótese do uso político do judiciário para reduzir a força do bolsonarismo, Cláudio Castro poderia ser afastado pelo STJ e Pampolha assumiria o governo. Isso acirrou o clima de desconfiança e as fofocas. Coincidentemente, problemas do Cláudio ressurgiram quando ele deu uma guinada mais à direita e agora, com a sua volta à neutralidade, amenizaram. Ele não foi, por exemplo, ao evento verde amarelo na Paulista. Imaginem, porém, o que seria do Rio com o governador interino em conflito com o presidente da Alerj? Um verdadeiro caos político estaria instalado.

Sucessões à parte, no final de 2023, Thiago Pampolha entra no gabinete do secretário da Polícia Civil, Marcus Amin, para denunciar a existência de um movimento que iria plantar produtos químicos para adulterar a gasolina de postos da família. Denúncias robustas chegaram ao vice. O clima azedou, já que a Polícia Civil estaria sob comando do União Brasil. Pampolha reagiu a um cenário que prejudicaria seus familiares, proprietários de uma imensa rede de combustíveis.

Janeiro e fevereiro, o clima entre Cláudio e Thiago só acirrou com a questão partidária na mesa. No carnaval, houve uma milagrosa reaproximação depois de uma guerra de camarotes. Enquanto Pampolha restabelecia o diálogo com Castro, sob os olhares de Baleia Rossi e do ministro das Cidades, Jader Filho, o governador resolve viajar para uma missão em Portugal e o clima de harmonia é restabelecido. O vice assume o Governo do Estado por uma semana.

Ainda no carnaval, no camarote privado, em frente ao do governador, Thiago recebe um convidado que, ao pé do ouvido, fala da operação, tendo sua família como alvo. Achou que era notícia velha. Ficou o registro. Depois, como governador em exercício, teria recebido um telefonema do jornalista Octávio Guedes dizendo, segundo o próprio Pampolha, que precisava falar com ele sobre um assunto muito sério. É marcado um encontro e Guedes, já no seu primeiro dia de férias, revela que tinha informações sobre a retomada da operação que envolvia a família e os postos de gasolina.

Corre, porém, a versão que foi Pampolha que chamou Guedes e entregou uma vasta documentação sobre o seu antagonista.

Dentro do cenário de que foi o jornalista que procura o governador, ele ficaria furioso e prometeu ir no dia seguinte à Superintendência da Polícia Federal para fazer uma denúncia contra o presidente da Alerj. Imaginem o caos: o chefe de um poder na PF denunciando o chefe de outro poder.

O caso foi contornado, prevaleceu o bom senso e, de Portugal, Castro teve de administrar essa crise. Palavras ditas ao interlocutor que ligou para Lisboa: "Se ele tem uma denúncia a fazer, que faça". Foi neste clima de tensão a interinidade. Pampolha resolve agir como governador e convoca uma reunião com toda a cúpula da Segurança no Guanabara às 8h30 da manhã. Fato que foi parcialmente divulgado. Às 23h, a reunião foi abortada.

Essa iminência de crise entre os poderes foi a gota d'água para a inclusão da Secretaria de Meio Ambiente na reformulação do secretariado que ocorre agora em março, devido às eleições de 2024. Pampolha teve a sua conversa de 40 minutos, saiu com a hipótese de voltar ao governo em uma das secretarias que pertence ao MDB, especialmente a de Esportes.

Castro pede apenas uma pasta que está na sua conta pessoal, vai nomear Bernardo Rossi que passa a Secretaria de Governo à felpuda e experiente raposa política, André Moura. As mudanças sairão em edição extra do Diário Oficial nesta terça, 05. Nos próximos dias, deixarão o governo os secretários Vinícius Farah, o vereador Alexandre Isquerdo e Hugo Leal. Outras mudanças não estão descartadas, como no Inea e em outros órgãos do segundo escalão.

Thiago e Cláudio têm agora a chance de reconstruir o relacionamento e voltar ao clima de amizade que fez a chapa vitoriosa. O que o estado do Rio precisa é de harmonia, menos fofoca e desconfiança.

O governador Cláudio Castro está procurando restaurar o clima civilizado para que a eleição de 2024 transcorra com harmonia e a longínqua eleição de 2026 não embole o meio de campo com a sua antecipação. Ele tem o seu tempo de decisão, sabe ouvir e engana-se quem pensa que ele age sem racionalidade. Ele deixou a porta aberta para Pampolha, depende só do MDB.

Finalmente, o vice-governador segue com a estrutura de gabinete e, com todo respeito. Ele tem o direito de defender a sua família de qualquer artimanha. Deve fazer isso de forma concreta, sem espaço para fantasias e falsas acusações. O que o estado do Rio precisa é de tranquilidade.

 

*Diretor de Redação do Correio da Manhã

 

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