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O amadorismo da Liesa e Riotur no trato com a imprensa

Por Cláudio Magnavita*

O turismo do Rio jogou no ralo boa parte do potencial promocional do seu carnaval. O maior erro é olhar a festa como atividade fim, e não como atividade meio. Um poderoso instrumento de promoção da cidade como destino turístico é jogado fora por incompetência e gestão no trato com a mídia - e com o setor do turismo.

O que ocorreu no tratamento com a imprensa foi de absoluto amadorismo. Resolveram ceifar credenciais de todos os veículos e negaram para publicações e jornalistas importantes, inclusive da mídia internacional.

Na mesma cidade, o Rock in Rio é um exemplo impecável de respeito e trato com a imprensa. Os jornalistas são credenciados mediante análise de cobertura, inclusive das anteriores, ganham uma super sala de imprensa e são tratados com absoluta fidalguia. A própria gestão anterior de Eduardo Paes montou um centro de mídia paralelo durante a Olimpíada de 2016, que serviu de referência internacional.

Por que no carnaval isso não funciona? Primeiro, pelo amadorismo que a própria Riotur conduz a relação com a mídia, sendo incapaz de se impor perante à Liga das Escolas de Samba. A comunicação social é dirigida pela jornalista Cláudia Silva, que já esteve na Riotur em gestões passadas, e, na última, editava o guia mensal de programação da cidade, que hoje não existe mais - e faz falta.

Enquanto o Rock in Rio contrata a Approach e adota critérios técnicos para a concessão de credenciais, a Liesa tem um comitê que aprova e desaprova ao sabor do humor dos seus participantes.

A Associação Brasileira de Agentes de Viagens (Abav), secção Rio de Janeiro, responsável pelos turistas internacionais no Sambódromo, com um setor só para eles, se viu impotente ao descobrir que o veículo líder do turismo, com sede em São Paulo, teve a credencial do editor e da fotógrafa negada. Fizeram apelo e nada. Recorreram até ao prefeito Eduardo Paes e, mesmo assim, conseguiram só a do editor. Há anos a revista e o site fazem uma cobertura espetacular do carnaval do Rio. Quanto vale isso em mídia? Desta vez, o comitê e a Riotur bateram com a porta na cara deles.

O carnaval depende de verbas públicas, tanto da Prefeitura quanto do Estado. Entre as contrapartidas, deveriam ter como reciprocidade a cogestão da participação da mídia no carnaval. Já que existe uma miopia da Liesa sobre a importância da cobertura jornalística além da Globo, emissora oficial, teríamos uma profissionalização deste relacionamento. Jornalistas do Nordeste foram rechaçados, da mesma forma os do interior. Um importante jornalista baiano, que há anos cobre o carnaval e produz grande quantidade de notícias, teve negada a sua credencial neste ano. Dois amigos deputados da Bahia interferiram com Eduardo Paes pelo rapaz, sem êxito.  

Enquanto a Liesa trata a imprensa de forma amadora, pipocaram, como nunca, a concessão de credenciais de pista para artistas, influenciadores digitais e convidados VIPs de camarotes. Todos com a "rosinha" no peito. Privilégio negado à imprensa. Fora a cessão de coletes, a conta gota. Foram emitidas, neste ano, mais credenciais de pista do que toda em toda a gestão de Jorge Castanheira como presidente da Liesa.

As rádios, inclusive as que fazem transmissão ao vivo, foram reduzidas a micro espaços, sem ar-condicionado, e que mal cabiam os equipamentos. A rádio Itatiaia de Minas, por exemplo, estava em um local coletivo.

Vale destacar que no Governo Crivella a comunicação da Riotur, sob coordenação de Rodrigo Paiva, hoje na CBF, estabeleceu uma relação respeitosa com a mídia, e o presidente Marcelo Alves abraçou o trade turístico de forma exemplar.  Amplificou um trabalho do seu antecessor, Antônio Pedro Figueira de Mello.

O carnaval é muito mais do que a tela da Globo. A Riotur anda às turras com a Liesa e deve também ganhar um novo presidente. O atual, Ronnie Aguiar, deve retornar para Portugal, onde está sua família. Nem apartamento mais no Rio possuí. Mora em hotel. Já a Liesa se prepara para uma eleição e deve enfrentar uma disputa. Nesta quarta, 14, a jornalista Vera Araújo, em O Globo, deu os bastidores da queda de braço entre os dirigentes da Liga.

No governo Dilma, a Embratur e Apex tiveram juntas um espaço para convidados do exterior. Traziam empresários interessados em investir e comprar produtos brasileiros e os maiores operadores internacionais. Só vivenciando o carnaval para mostrar a força e a criatividade do povo brasileiro. Funcionou por dois anos. Nunca mais este programa de incentivo foi realizado. Todos querem ganhar no carnaval e não com o carnaval. Lamentável.

Esperamos que o próximo presidente da Riotur e o novo presidente da Liesa compreendam que o carnaval é um poderoso instrumento de mídia para promoção do Rio. Qualquer dúvida, é só copiar o modelo do Rock in Rio.

Jogar no ralo uma mídia espontânea de um evento que vive de verba pública é um crime contra a promoção do Rio, além de atrair uma enorme antipatia para o destino, pela forma que tratam os jornalistas. Parte destas denúncias estão nos grupos dos Conselhos de Turismo. Cabe ao prefeito Eduardo Paes e ao governador Cláudio Castro colocarem ordem na casa e exigirem uma nova postura. Já que o evento recebe verbas públicas, cabe também ao Ministério Público apurar os exageros na concessão das credenciais de pista e a restrição ao trabalho da mídia.

*Diretor de Redação do

Correio da Manhã

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