DEMOCRACIA SEM CENSURA E SEM TUTELA - As eleições argentinas serviram de referência, na comparação com o que ocorreu no Brasil em 2022. Não poderia ter elementos mais democráticos. Dois candidatos de extremos diferentes: um de esquerda e outro de direita. Não houve censura provocada pelo judiciário. Os eleitores e apoiadores da direita puderam se manifestar a favor do seu candidato. A justiça eleitoral não virou agente eleitoral e não perseguiu um lado em detrimento do outro. A Suprema Corte argentina assistiu o pleito como espectador e não virou protagonista de um processo no qual os integrantes foram os partidos, os candidatos, os eleitores e a soberania das urnas. O candidato vencedor usou motosserra em comícios, disse que iria prender políticos corruptos e outras barbáries. Não foi censurado, punido, multado e nem processado. Foi um show de democracia. Quem viveu 2022 no Brasil ficou com inveja da democracia dos hermanos. O que teria ocorrido no Brasil com o modelo democrático argentino e sem interferência do judiciário? A maior lição que esta eleição nos deu é a existência de um pleito sem censura. O povo pode escolher eeleger quem quis. Foi democracia pura. Vale a reflexão.
DECEPÇÃO - A derrota de Sérgio Massa foi uma ducha fria no núcleo político do governo brasileiro. O crescimento no primeiro turno deixou a turma do PT animada e os marqueteiros petistas empenhados em não permitir o ressurgimento da direita no quintal argentino. A vitória de Javier Milei com mais de 12 pontos de diferença foi um recado duro para o futuro da esquerda no Brasil. A campanha do medo não funcionou.
EFEITO DOMINÓ - O ex-presidente Jair Bolsonaro usou as redes sociais para parabenizar nominalmente Javier Milei e afirmar: "a esperança volta a brilhar na América do Sul". Ele escreveu ainda: "Que estes bons ventos alcancem os Estados Unidos e o Brasil, para que a honestidade, o progresso e a grande verdade voltem para todos nós".
ENSINAMENTOS - Para o Bolsonarismo, a vitória de Javier Milei foi comemorada. Fábio Wajngarten, fiel escudeiro do ex-presidente, usou as redes sociais para postar: "Estamos voltando!". Wajngarten complementa: "Ensinamentos das eleições da Argentina: Não vence quem tem mais dinheiro. Não vence o queridinho do establishment. Vence quem fala o que a grande massa popular quer ouvir; vence quem é autêntico, quem tem paixão, quem vai para cima; quer mudar a política vá votar. Da maior abstenção no 1º turno para grande participação no 2ºturno".
NÃO RESISTIU - Causou arrepio na turma do Itamaraty a postagem da primeira-dama Janja, realizada no domingo (19), do abraço, segundo ela, "Massa" com M maiúsculo, das personagens Malfada (argentina) com Mônica(brasileira). O governo Lula vinha procurado se manter neutro até o dia da eleição, e todos foram surpreendidos com a intromissão da primeira-dama na disputa eleitoral do país vizinho. Ela já se declarou fã de Evita Perón e tem seguido seus passos.
DNA ELEITORAL - O baiano Chico Kertész, que trabalhou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022, fez parte da equipe da equipe de brasileiros escalada para tentar salvar o candidato peronista Sergio Massa na corrida presidencial. Ele é filho do ex-prefeito de Salvador e hoje radialista de sucesso Mário Kertész e da inesquecível artista plástica Eliana Kertész.
NÁUFRAGOS - De forma mais intensa, os publicitários Otávio Antunes e Raul Rabelo, que fizeram parte de campanhas de Fernando Haddad (PT), e Halley Arrais, que ajudou o ex-deputado Edegar Pretto (PT-RS), faziam parte a equipe de campanha de Sérgio Massa. Vivendo nas últimas semanas na Argentina e sentindo os efeitos da inflação e da disparada do dólar, eles sabiam que tinham uma missão impossível nas mãos. A virada no primeiro turno para eles já tinha sido a cereja do bolo.
TORCEDORES - Quem ficou zapeando as TVs a cabo pôde sentir as diferenças de foco na cobertura das eleições argentinas. A GloboNews tentando minimizar a vitória e até questionando quanto tempo durará este entusiasmo do eleitor; e a Jovem Pan mostrando o crescimento da direta. Lados opostos. Quem ficou isenta foi a CNN Brasil. Ganhou por informar sem tendências ideológicas.
ESTADISTA - O primeiro discurso de Javier Melei, no hotel El Conquistador, na Avenida Córdoba, ao lado da ex-sede da Varig, respeitou a liturgia do cargo e falou como estadista. Pronunciamento lido. Ressaltou a importância do apoio do ex-presidente Maurício Macri e da candidata derrotada no primeiro turno Patrícia Bullrich. No discurso na rua, repetiu o mesmo tom. Surpreendeu nas urnas e nos pronunciamentos.
RETRATO DA CRISE - Nas fotos da coluna, os registros que ela realizou em Buenos Aires, na segunda semana de novembro. Cem dólares são 180 notas de 500 pesos, como mostra na imagem. A maior nota é a de 1000 pesos, que equivale a um dólar. Em todas as lojas, a máquina de contagem de notas, uma velha conhecida para quem viveu nos anos mais críticos de inflação no Brasil. Lojas tradicionais funcionando a base de geradores de rua, já que tiveram sua energia cortada por falta de pagamento, e ainda os obstáculos para limitar o acesso de clientes, já que trabalham com um quadro mínimo de funcionários. Sérgio Massa é o atual ministro da Economia e o responsável pelo colapso no setor.
VERDINHA - No turismo, os valores estão sempre atualizados em dólar. Casacos de couro cotados na moeda norte-americana, no câmbio blue. O mesmo ocorre com os hotéis e serviços de luxo. Em pesos, só alimentação e táxi. Na prática, o país já está dolarizado.