A Fundação Rio Convention e Visit Bureau, presidida por Carlos Werneck e com Luís Strauss na presidência do Conselho Curador, lançou festivamente no dia 27 de setembro, na feira de turismo realizada no Riocentro a nova marca do Visit Rio, que segundo o vídeo institucional da Fundação, será a nova marca da cidade. O convite foi assinado pela Prefeitura do Rio através da Secretaria Municipal de Turismo e da Riotur. A solenidade foi realizada no estande da municipalidade.
O que seria uma atitude aparentemente louvável para a promoção do Rio, acabou se misturando em um terreno onde não fica claro o uso de um ativo municipal. Ou seja, patrimônio público e a Fundação Rio Convention Bureau, uma entidade tutelada pelo Ministério Público Estadual, através da curadoria de fundações, razão pela qual deveria ter de forma bem clara está relação com o poder público.
Para se compreender a gravidade do cenário, no mundo do turismo os sites "Visit" são portais oficiais geridos sob a tutela da municipalidade ou por concessão por organizações governamentais. É assim com os portais VisitMiami, VisitBerlim e outros grandes destinos mundiais. Com o advento da Copa e das Olimpíadas de 2016, a Prefeitura, na gestão de Eduardo Paes, criou o VisitRio. Com a aprovação do domínio Rio, o Implan, braço de informática da prefeitura, a pedido das autoridades municipais de turismo, registrou o Visit.Rio como patrimônio da capital. Esta marca mãe, pertence, sem dúvida, à Prefeitura da Cidade do Rio, tendo sido feito investimentos públicos para a sua criação e divulgação.
Com a eleição de Marcelo Crivella, a gestão municipal do turismo, para efeito de salvaguardar o VisitRio, permitiu que a Fundação Convention Bureau fosse a guardiã da marca, inclusive com registro no INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial, com o compromisso de devolução. Foi tudo feito em um cenário amigável, até que houve uma mudança de gestão na Fundação, que resolveu assumir o papel de proprietária e não apenas de guardiã, iniciando uma série de embates com a prefeitura do Rio.
Neste cenário, foi criado um paradoxo, no INPI, a marca criada pela prefeitura passou a pertencer à Fundação Rio Convention Bureau, processo 910961999 e no registro de domínios, o www.visit.rio continua da Prefeitura. Para lançar o seu portal, criou em 01 de fevereiro de 2022, o domínio www.visitrio.com.br, em uma afronta ao litígio que tentava abduzir a marca da prefeitura.
Este litígio, que começou na gestão de Sonia Chami, no Rio Convention, teve desdobramento já no comando de Carlos Werneck e Luiz Strauss, com a assinatura de um plano de trabalho formado com a Riotur, no qual recebia por um ano o direito do uso do domínio www.visit.rio com o compromisso de criar um portal para a cidade. Com vigência de um ano, com renovação até dezembro de 2024, o uso chancelado pela cidade dá uma outra dimensão ao portal, algo mais oficial. O plano de trabalho não prevê, porém, a comercialização. Na prática, o documento firmado na gestão de Werneck e Strauss transforma o portal na janela oficial da cidade.
Ao firmar o plano de trabalho, este convênio deixa o VisitRio submetido às regras de fiscalização, prestação de contas ao Tribunal de Contas e à Câmara Municipal. É neste cenário que começam a ocorrer os problemas na gestão comandada pelos dois, que demonstram não compreender que passam oficialmente a dever satisfação à prefeitura do Rio, aos auditores do TCM, à própria mídia e ao poder legislativo municipal.
A nova marca da cidade, como o novo logotipo é apresentado, foi lançada sem ser submetida a avaliação ou apresentação ao prefeito do Rio, Eduardo Paes. Surpreendente foi a resposta do presidente da Riotur, Ronnie Aguiar, quando questionado pela coluna, sobre a razão da nova marca não ter sido levada ao prefeito. Por Whatsapp ele respondeu: "Ele (Paes) não tinha que ser consultado para isso. E nem a Riotur e nem a Setur, eles (Convention) foram gentis e nos apresentaram antes de divulgar publicamente".
O prefeito Eduardo Paes afirmou à coluna que a primeira vez que viu a marca foi quando recebeu o questionamento do Correio da Manhã, que enviou uma cópia do logotipo.
Na apresentação da nova marca, registrada no INPI no processo número 931538300, em 15/08/2023, foi solicitado pela Secretaria de Turismo que houvesse uma apresentação formal ao Conselho Municipal de Turismo, a concordância inicial de Carlos Werneck foi abortada e o lançamento foi mantido na feira de turismo.
Assumidamente inábil na relação governamental e regimental, como já afirmou a coluna, Luiz Strauss tem colecionado problemas de relacionamento com o poder estadual de turismo, agravado por recentes atitudes do presidente executivo, Carlos Werneck, como já foi também relatado pela coluna. Agora, a Fundação se coloca como dona de uma marca criada com fundos do erário público e complementada com a cessão formal em convênio com a prefeitura.
A nova imagem tem sido constatada por profissionais de marketing, que não concordam com o visual final, decidido sem concurso público ou envolvimento dos setores do turismo. "Parece uma rabisco de estagiário" afirmou um conceituado publicitário do Rio, ao avaliar a marca a pedido do Correio da Manhã.
A Prefeitura do Rio possui três grandes agências de publicidade licitadas que poderiam auxiliar na criação da nova marca para o turismo do Rio. Questionada sobre o processo de escolha dos criadores da agência, a Fundação informou que só poderá responder na segunda, porém, o seu presidente executivo, Carlos Werneck, teve tempo de enviar a seguinte resposta/ameaça aos questionamentos: "Lamentamos muito sua conduta em relação à Fundação. Enviar às 11h da manhã de um domingo uma mensagem solicitando diversas informações para resposta até 17:00 do mesmo dia não é minimamente razoável. E logo no domingo, quando todos estão em seu momento de descanso junto a seus familiares. Parece que é proposital para evitar qualquer resposta da Fundação e se valer desse expediente para atacar a entidade. Pior, uma mensagem repleta de premissas equivocadas e informações distorcidas. Só temos mesmo a lamentar a sua postura e forma de atuar. Por fim, em caso de qualquer notícia veiculada para atacar ou causar prejuízo à Fundação, as medidas cabíveis serão adotadas para defesa dos direitos da entidade e sua devida reparação."
Insistimos no pedido de questionamentos simples, que deveria ser do conhecimento de um gestor aparentemente dedicado e recebemos finalmente uma resposta objetiva e não passional: "As respostas e informações solicitadas somente poderão ser levantadas e respondidas em dia e horário comercial".
Por ironia, depois de tanto litígio e termo de concessão, quem digitar na internet o endereço www.visit.rio será direcionado ao www.visitrio.com.br, que "pertence" à Fundação. Um caso que contém um erro histórico e que precisa ser colocado a lupa pelo Tribunal de Contas do Município, Ministério Público Estadual, Câmara Municipal e Curadoria de Fundações.