Por: Cláudio Magnavita

Coluna Magnavita | Festival de polêmicas no banco do GDF. BRB vira alvo do Banco Central

Governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha não perde um único jogo do Flamengo. O BRB, além de patrocinar o time do governador, patrocina o estádio Mané Garrincha, do próprio GDF | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

O banco público que patrocina o Flamengo e sócio do time em um banco digital está enfrentando problemas com o Banco Central (BC) e o pivô é o envolvimento com jogos, através da BRBCard, com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, na área de loterias. Ingrediente explosivo que inclui um dos raros bancos públicos ainda em operação, uma casa filantrópica que tem as principais concessões do jogo online em Portugal e um lançamento contábil indevido, rejeitado pelo Banco Central. Por ordem do BC, o Banco de Brasília (BRB) refez os demonstrativos financeiros de 2022 e deste ano, informa reportagem do Correio Braziliense. Segundo o jornal, houve grande impacto: no 1º trimestre de 2023, por exemplo, a instituição do DF teve prejuízo de R$ 43,3 milhões. O buraco foi coberto por resultados de abril a junho.

O mais grave é que o negócio foi rejeitado pelos órgãos reguladores, mas, ainda assim, o BRB lançou a quantia em seu balanço para inflar os resultados. Nos primeiros seis meses deste ano, especificamente, as correções nos balanços do banco chegaram a R$ 173,8 milhões, dos quais R$ 75,8 milhões são referentes a dividendos recebidos indevidamente de uma reestruturação societária envolvendo a BRBCard e R$ 77,5 milhões decorrentes do negócio da instituição portuguesa, na área de loterias.

 

Taxa de Juros mais altas para clientes do Flamengo, devido a alta inadimplência, segundo a Folha de São Paulo | Foto: Reprodução

 

O BRB é um banco público e tem a sua atuação principal na capital federal. O patrocínio do Flamengo reflete a paixão do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, pelo rubro-negro. Ele não perde uma partida do time, muitas vezes se desloca em jato executivo e pelo banco tem direito a um dos mais disputados camarotes no Maracanã.

O contrato com o Flamengo em 2023 foi de R$ 32 milhões de patrocínio master,  quase a metade do lançamento indevido no balanço e revisto pelo Banco Central.

Os negócios com o time vão além do patrocínio. Em 19 de janeiro de 2023, o BRB comunicou a autorização do Banco Central para participação societária de um novo banco em associação com o Flamengo, o Banco Nação. Cada um dos sócios têm 50% da instituição. Tratava-se de uma formalidade porque o banco já vinha funcionando, com 3 milhões de contas. Agora, Flamengo e o BRB estão no mercado em busca de um sócio para comprar parte do banco digital e escalaram o BTG.

O que seria uma jogada de marketing, iniciada no primeiro governo de Ibaneis Rocha, ganhou dimensões de escândalo financeiro com a revelação do conceituado jornal Folha de São Paulo. No mesmo momento em que o BRB e o Flamengo procuram um novo sócio para seu banco digital, o jornal aponta que os torcedores do clube carioca deram um prejuízo de R$ 455 milhões ao banco público que lhes concede empréstimos há três anos dentro da parceria Nação BRBFla. Esse valor se refere a créditos com mais de um ano de atraso e que, por determinação do BC, tiveram de ser baixados a prejuízo, mas que o banco ainda tenta receber.

 

O Banco, do próprio governo do Distrito Federal, BRB, deu os naming rights do estádio Mané Garrincha. O contrato é válido de 2022 a 2024 por um total de R$ 7,5 milhões. Com a novidade, o estádio passou a se chamar Arena BRB. É o próprio governo financiando o concessionário do espaço, que agora está de olho na concessão do Maracanã | Foto: Reprodução CBF/Arena BSB

 

Segundo o próprio banco no relatório, o indicador de inadimplência foi de 25,9% em junho deste ano e envolve R$ 112 milhões — índice considerado elevado no mercado e 150% superior à inadimplência registrada pelo BRB com outras parcerias.

Com esse desempenho, o banco provisionou mais de 30% dessas perdas, ainda segundo o relatório. Para compensar a elevada inadimplência dos flamenguistas, a instituição financeira cobra taxas de juros mais elevadas dos torcedores.

O presidente do BRB, o controverso Paulo Henrique Costa, funcionário de carreira da Caixa Econômica e que, recentemente, foi lembrado para presidir a instituição indicado pelo Centrão, usou a mídia flamenguista para negar a matéria da Folha de São Paulo. Afirmou que as operações do Nação BRBFla representam menos de 2% da carteira de crédito do banco, com uma inadimplência de apenas 2,01%, significativamente abaixo da média do mercado, que se situa em 3,6%. Para Paulo Henrique Costa, a matéria da Folha "foi encomendada." Só não disse por quem e nem rebateu as atitudes do Banco Central.

O BRB, na gestão de Costa, tem apostado nos patrocínios milionários. Ele garantiu o uso do seu nome no Estádio Mané Garrincha, que foi concessionado pelo GDF, proprietário do banco. De forma indireta, é o próprio governo que financia o sortudo concessionário, que transformou o Mané em um centro de eventos e shows. É o mesmo que criou a empresa Maracanã Corp. O próprio nome já revela os seus objetivos.

Como banco público, o BRB pertence aos contribuintes de Brasília. Não é uma instituição privada na qual os acionistas particulares pagam pelo seu erro. Deveria ser um banco lucrativo, destinando os dividendos ao acionista público para mais investimentos na saúde, segurança e educação. Depois da faxina dos bancos estaduais, o BRB é um raro remanescente de um universo no qual proliferou a mistura do público e privado, com nuances políticas.

A revisão dos lucros do BRB feita por obrigação do Banco Central tem impacto também na distribuição de bônus para os gestores. Lucro menor e remuneração menor para a equipe que está na mira do BC. 

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