Coluna Magnavita | ENTREVISTA: Corregedor-geral da Justiça do Rio planeja mutirão nos tribunais do júri do estado

Em busca de eficiência na prestação jurisdicional

Por Cláudio Magnavita

Desembargador Marcus Basílio, corregedor da Justiça do Rio

Priorizando a eficiência da prestação jurisdicional, o corregedor-geral da Justiça do Estado do Rio de Janeiro, desembargador Marcus Henrique Basílio, desde que assumiu o cargo, em 3 de fevereiro deste ano, expandiu os grupos de apoio cartorário, promoveu um mutirão de registro civil para moradores de rua e planeja uma agenda concentrada para os Tribunais do Júri de todo o estado. Somente na capital, existem, hoje, 4.450 processos em tramitação nos quatro Tribunais do Júri. Em 2023, ingressaram 1.629 novas ações nessas unidades, tendo sido realizados 132 julgamentos e proferidas 405 sentenças de janeiro a abril. No âmbito extrajudicial, o corregedor pretende ainda digitalizar os acervos cartorários dos últimos 50 anos, transformando os livros físicos em livros eletrônicos e padronizar os valores cobrados de emolumentos dos principais atos extrajudiciais, para evitar cotações e procedimentos divergentes entre os diversos serviços de mesma atribuição.

Qual balanço o senhor faz dos primeiros quatro meses de gestão como corregedor-geral da Justiça?

Foram meses de muito aprendizado e trabalho, respeitando a máxima de que a "máquina administrativa não pode parar". Conseguimos visitar sete Núcleos Regionais (Capital; Barra; Méier; Duque de Caxias; Niterói; Petrópolis e Cabo Frio), com o objetivo de aproximar a Corregedoria Geral da Justiça dos juízes, escutando as necessidades estruturais locais, sugestões e boas práticas, a fim de auxiliá-los na melhoria da prestação jurisdicional, através dos balizadores constantes nas metas do Conselho Nacional de Justiça. Retornamos, também, com a realização de correições extraordinárias presenciais, com foco no apoio e na gestão cartorária, além de aumentar substancialmente os grupos extraordinários de apoio cartorário (GEAP-C), inclusive para processos em tramitação no sistema PJe, para tentar minimizar os impactos da falta de servidores em unidades judiciais. Por fim, iniciamos novos estudos de lotação dos cartórios e das equipes interdisciplinares, para melhor realocação da força de trabalho, cientes de que "o cobertor é curto".

No âmbito extrajudicial, estamos, ainda, em um período inicial de ambientação e adaptação a um novo Código de Normas Extrajudiciais, editado ao final da gestão anterior. Mesmo com as diversas novidades, recentemente introduzidas, muitas ainda passíveis de regulamentação, o trabalho vem se desenvolvendo por meio da criação e construção de projetos que possam ser efetivados ao longo dos dois anos de gestão, com o uso intenso da tecnologia. De imediato, o foco está na fiscalização dos Serviços Extrajudiciais em todo o Estado, visando a coibir a adoção de procedimentos divergentes e não conformes com o arcabouço normativo e, ainda, a adotar medidas que busquem a melhoria do atendimento e das instalações para a população usuária.

Um ponto a destacar é que a CGJ, cumprindo o Provimento CNJ n° 140/2023, realizou, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, a "Semana Registre-se", evento que contou com a participação de diversos integrantes do Sistema de Justiça (Presidência do TJRJ, TRF-4, TRE, DPGE e MPRJ), Secretarias de Governo (estadual e municipal), Exército Brasileiro, Receita Federal e INSS, além de representantes da sociedade civil organizada. Essa união de esforços possibilitou o atendimento de aproximadamente 2.000 pessoas em situação de vulnerabilidade social (presos e população de rua), que conseguiram ter acesso à 2ª via de certidões de nascimento/casamento, a documentos de identidade e a toda rede de documentação básica, além de oferecer-lhes outros serviços de natureza judicial e social.

Qual tem sido o maior desafio à frente da Corregedoria?

Quanto às serventias judiciais, o principal desafio é encontrar soluções criativas para o déficit de pessoal - quando comparados os índices de aposentadoria e de adoecimento dos servidores, muitos com redução de carga horária, ao aumento exponencial das demandas judiciais - e para o momento de transição pelo qual passamos, com a transformação de um modelo de prestação jurisdicional eminentemente físico para o eletrônico, com as naturais inconsistências e ajustes necessários nos sistemas informatizados, que demandam tempo e que acabam por impactar na prestação jurisdicional e na extração de dados de monitoramento pela Corregedoria.

Já nas serventias extrajudiciais, o grande desafio é a intensificação das fiscalizações nos Serviços com maior número de reclamações e ocorrências quanto ao descumprimento de normas desta CGJ. Trata-se de medida prioritária para combater as fraudes e as irregularidades na prática de atos notariais e registrais, em todos os Serviços do Estado, de forma ágil e direcionada, com o cruzamento de dados e informações, classificadas por tipo de ocorrência, atribuição e Serviço. O empenho visa ao mapeamento das ações dos fraudadores e se direciona à orientação e fiscalização dos Serviços, bem como à adoção de medidas que possam, efetivamente, inibir a ação de usuários externos que se valem do sistema extrajudicial para a prática de atos irregulares ou fraudulentos. O propósito atual é o combate às fraudes em procurações e atos notariais, nos atos de registro de nascimento, óbito e no uso de documentos falsos de identificação civil. Em síntese, fazer mais com menos.

O senhor poderia apontar quais são os principais projetos e prioridades da CGJ nesses dois anos?

Em linhas gerais, quanto à parte judicial:

a. auxiliar, monitorar e acompanhar as serventias, para que alcancem os índices de eficiência estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça, por meio de apoio cartorário, GEAP-C e correições extraordinárias presenciais;

b. plano de ação para a realização de mutirões nos Tribunais do Júri para réus soltos, sem qualquer alteração na rotina diária dos Juízos, por meio do suporte cartorário da CGJ;

c. realizar novos estudos de lotação para os servidores sem e com especialidade;

d. efetuar estudo de produtividade dos servidores em regime de teletrabalho;

e. estabelecer novos fluxos e rotinas de trabalho para a otimização da escassa mão-de-obra;

f. fomentar a pactuação de convênios com o Estado do RJ, os seus municípios e as universidades, para cessão de servidores e de estagiários para a área interdisciplinar (psicólogos e assistentes sociais).

No eixo extrajudicial, foram detalhados os principais projetos e prioridades:

a. unificação das estatísticas acerca de reclamações e elogios;

b. maior controle sobre o andamento de protocolos de entrada nos Serviços de Registro de Imóveis;

c. controle das contas de depósito prévio nos Serviços de Registro de Imóveis, Notas e RCPN, para evitar prejuízos ao erário quando da ocorrência de vacância nos Serviços delegados;

d. digitalização dos acervos cartorários dos últimos 50 anos, transformando os livros físicos em livros eletrônicos, de forma a permitir a transmissão desses dados para os bancos informatizados deste Tribunal de Justiça, a fim de ampliar a consulta pública destinada ao cidadão e evitando-se danos que possam ser causados por calamidades públicas ou deterioração;

e. padronização das instalações físicas dos serviços extrajudiciais, com ênfase na utilização de parâmetros das normas internacionais de gestão da qualidade e serviços, visando à melhoria do atendimento e da prestação do serviço à população - o projeto prevê a divisão dos Serviços por tamanho (pequeno, médio e grande porte), capacidade de recursos financeiros, público-alvo, volume de atendimentos e de atos praticados, peculiaridades geográficas, criando-se um padrão mínimo e adequado de funcionamento em todo o Estado;

f. criação de um banco de dados para consulta pública acerca da localização atual dos acervos transferidos de serviços desativados e extintos, a fim de facilitar a busca do cidadão de atos praticados em data mais distante e agilizar a emissão de certidões ou de registros;

g. criação do Livro Auxiliar Diário Eletrônico para controle da arrecadação e das despesas dos serviços extrajudiciais, para permitir a fiscalização remota da gestão financeira, do recolhimento dos impostos devidos e fundos legais dos serviços extrajudiciais, integrando-o aos demais órgãos públicos (Receita Federal e as Secretarias Municipais e Estaduais de Fazenda);

h. padronização dos valores cobrados de emolumentos dos principais atos extrajudiciais, para evitar cotações e procedimentos divergentes entre os diversos Serviços Extrajudiciais de mesma atribuição. Divulgação ao cidadão e aos Serviços dos valores únicos que devem ser cobrados por todos, por meio da fixação do regramento de composição de ato extrajudicial, evitando-se qualquer interpretação divergente.