Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Isolado, Fux também acabou sendo 'condenado'

Moraes ironizou e criticou voto do colega | Foto: Victor Piemonte/STF

O ministro Luiz Fux foi, de maneira simbólica, o nono condenado no julgamento do núcleo crucial da tentativa de golpe de Estado.

Na sessão de ontem, o voto que ele pronunciara foi alvo de sucessivas críticas e ironias por parte de outros integrantes da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal.

Os ataques mais duros partiram do relator do processo, Alexandre de Moraes, que havia sido criticado de maneira indireta por Fux. Moraes fez, pelo menos, cinco disparos na direção à fala do colega, ocorrida na véspera.

Fux classificara como exercício da liberdade de expressão pronunciamentos feitos por Jair Bolsonaro. Moraes selecionou um deles para ressaltar a gravidade do que fora dito.

 

Ameaça

No vídeo, o então presidente diz que Moraes deveria arquivar inquéritos, e ainda o chamou de canalha. O ministro ironizou o fato de a fala não ter sido considerada um crime. Alertou para os riscos que correria um juiz de cidade pequena que assim fosse atacado pelo prefeito.

Armas

Moares contestou também a decisão de Fux de absolver os oito réus da acusação de integrarem uma organização criminosa armada. Ressaltou que os planos de assassinato de autoridades foram feitos por militares que tinham acesso a forte armamento.

Moraes: manifestantes exaltavam Bolsonaro, não Cid

Fotos de manifestações foram mostradas na sessão | Foto: Antônio Augusto/STF

Outra contestação foi relacionada ao fato de Fux ter absolvido Bolsonaro e condenado seu ex-ajudande de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, por tentativa de abolição do Estado de Direito.

Moraes também mostrou fotos de manifestações golpistas e do 8 de Janeiro e frisou que faixas exaltavam o papel de Bolsonaro, e não de Mauro Cid e de outros acusados.

Ressaltou que o responsável pela destruição de relógio do século XVII trazido por Dom João VI vestia camiseta com imagem do então presidente, e não de Mauro Cid. Na véspera, o ministro Flávio Dino ironizara a absolvição de Bolsonaro e a condenação de seu subordinado.

Apartes

A tabelinha entre ministros e a ministra Cármen Lúcia, a primeira a votar ontem, ficou evidente quando Moraes lhe pediu o aparte — Fux, na terça, ressaltara que um acordo entre eles impediria qualquer interrupção. Irônica, ela disse que concederia "todos" os apartes.

Anulação

Cármen Lúcia, sem citar Fux, também contestou pontos do voto do colega, que chegou a defender a nulidade do julgamento por suposto descumprimento de requisitos legais. Ela ressaltou que o plenário do STF já havia aprovado todos os procedimentos questionados.

Em cartório

Dino também pegou carona nas ironias ao colega que negara a tentativa de golpe de Estado. Segundo ele, a articulação liderada por Bolsonaro produzira mais documentos que o Golpe de 1964. Para ele, só faltou o registro de ata em cartório por parte dos conspiradores.

Sentiu

Fux demonstrou ter sentido as críticas dos colegas e a repercussão majoritariamente negativa de seu voto na sociedade. Ao tratar da pena de Mauro Cid, tratou de justificar sua posição, alegou que não é simples julgar crimes recentemente incluídos no Código Penal.