Aliados de Jair Bolsonaro sentiram muito um golpe desfechado pelo procurador-República, Paulo Gonet, durante o julgamento do principal núcleo acusado de tentativa de golpe de Estado.

O PGR fez questão de citar a ameaça que o então presidente, em 7 de setembro de 2021, fez a Luiz Fux, na época presidente do Supremo Tribunal Federal. Fux é tido como o único aliado bolsonarista na Primeira Turma do STF.

Irritado com decisões do ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro, frisou Gonet, "repetiu o ultimato" a Fux: "Ou o chefe desse Poder enquadra o seu (ministro, Moraes), ou esse Poder pode sofrer aquilo que não queremos, porque nós valorizamos, reconhecemos e sabemos o valor de cada Poder da República."

Para políticos ligados a Bolsonaro, o PGR criou um constrangimento para Fux, "uma maldade", segundo um deles. Lembrou que o minstro também foi vítima de ataques do principal acusado pela trama golpista. Uma ameaça que, no limite, tinha como alvo o próprio STF.

A nova rodada de articulações pró-anistia acirrou ainda mais os ânimos no STF e na PGR. Além da condenação de Bolsonaro, há a intenção de que a decisão evidencie o tamanho do risco que o país correu com a tentativa de golpe. Algo que sirva de vacina contra o perdão.

Sedendos por blindagem, deputados enrolados com desvios de recursos de emendas, exageraram na dose e sabotaram a tramitação da proposta de emenda constitucional que criava barreiras para que parlamentares fossem processados.

Semana passada, quando o relatório do deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG) não havia sido divulgado, o grupo foi ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-MG) e pediu que fosse discutido um texto radical.

Pela proposta, qualquer processo contra parlamentares teria que ser autorizado por dois terços do STF e pela respectiva Casa, Câmara ou Senado.

O projeto derrubou qualquer possibilidade de consenso entre os líderes e inviabilizou um acordo que vinha sendo costurado com o STF. Para complicar ainda mais, trechos da proposta foram fotografados e divulgados em redes sociais e geraram revolta.

A discussão entrou pela noite e impediu a análise da proposta de Andrada, que previa proteção apenas para crimes ligados à atividade parlamentar: não haveria necessidade de autorização de suas Casas para que fossem processados por corrupção.

O presidente Lula é visto no PT como um dos grandes obstáculos à busca de uma negociação mais ampla com partidos do Centrão que, apesar de ocuparem ministérios, tocam mais pela partitura da oposição. Irritado com o que chama de traições, não quer muita conversa.

Apesar dos esforços da turma do deixa disso, Lula não tem muitas esperanças de acordos amplos, prefere apostar em acertos regionais. E aposta que, na hora do vamos ver, seu carisma e seu governo compensarão a falta de amplos apoios partidários.