Quebra-quebra institucional na Câmara
Eles deixaram evidente que trabalham contra a democracia e suas instituições, estão lá apenas para provocarem, fazerem chacota, desmoralizarem os próprios mandatos, debocharem da população que lhes paga salários.
Ao aprovarem, na Comissão de Segurança Pública, projeto que proíbe armas de fogo por seguranças do presidente da República e de seus ministros, deputados agiram como os invasores que depredaram o Congresso Nacional e outras sedes de poderes.
Deixaram evidente que trabalham contra a democracia e suas instituições, estão lá apenas para provocarem, fazerem chacota, desmoralizarem os próprios mandatos, debocharem da população que paga seus salários. Com palavras e gestos, tacaram pedras no Parlamento.
A justificativa do projeto apresentado pelos bolsonaristas Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP) e Delegado Caveira (PL-PA) (nome político de Lenildo Mendes dos Santos Sertão) não passa de uma ironia ginasiana, dessas capazes de gerar vergonha se apresentada numa roda de adultos.
Os dois políticos citam a cultura de paz e de redução da violência — temas presentes em proposições de especialistas em criminalidade e adotados por setores da esquerda — para tentar impedir que autoridades tenham direito à segurança armada, algo necessário em qualquer lugar do mundo. Policiais, eles sabem que isso é inviável, mas não queriam perder a piada, por mais infantil que seja: caso abrissem mão da lógica caça-cliques, nada teriam para mostrar.
É alto tão caricatural que equivaleria a aprovar um projeto que autorizasse a invasão e depredação das casas e dos locais de trabalho de parlamentares que defendem a anistia. Se não veem crime na destruição de bens físicos e simbólicos da nação e na pregação de golpe militar, não poderiam, portanto, reclamar caso algo semelhante ocorresse em seus lares e escritórios.
Para piorar o tamanho do absurdo, o relator do projeto, o deputado Gilvan da Federal (PL-ES), nascido Gilvan Aguiar Costa, externou, na sessão, seu desejo de que o presidente Lula morra. Isso, num contexto de sua defesa da retirada da segurança armada daquele que foi eleito para governar o país.
Isso permite uma conclusão simples: a ausência de agentes armados do presidente Lula facilitaria o desejo do deputado de vê-lo morto. O relatório de Federal foi aprovado com 15 votos a favor, oito contra e uma abstenção.
A performance desses deputados demonstra que, diferentemente do que tanto alardeiam, eles e tantos outros que compartilham a mesma visão de mundo não estão nem um pouco preocupados com segurança pública. Usaram o espaço de comissão permanente da Câmara destinada a discutir um tema tão grave para fazer graça, para brincar; têm perfeita consciência de que a provocação em forma de projeto não passa de uma presepada para criar confusão.
Mas sabem também que só assim conseguiriam espaço e curtidas, teriam seus nomes citados nas redes sociais e no noticiário —— aqui, inclusive. Agiram como crianças que, na sala de aula, jogam bolinhas de papel umas nas outras. Ou como aquelas que, com sonoros e fedorentos traques, desviam a atenção de um auditório, provocam risos, deixam sem graça a professora.
Seus gestos e palavras vão muito além de repetidos episódios de flatulência. O que querem é criar condições para a desmoralização total dos poderes da República, tentam provar que nada ali serve pra nada, que aquilo tudo — Congresso, Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal — pode e deve ser quebrado.
Atos que se encaixam nas proposições de Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza, de 69 anos, ao relatar, em vídeo feito durante a invasão do STF, o que fazia por lá: "Quebrando tudo e cagando nessa bosta aqui". Fátima de Tubarão, como passou a ser conhecida, foi condenada a 17 anos de prisão e é uma das citada no vídeo em que pastores convocavam para o ato de domingo passado em defesa da anistia.