Por: POR FERNANDO MOLICA

Geólogo: reconstrução do RS exigirá mudanças no solo

Para Menegat, é preciso recuperar matas | Foto: UFRGS

Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o geólogo Rualdo Menegat diz que a reconstrução de áreas afetadas pelas enchentes terá que levar em conta o agravamento da situação climática e os futuros temporais. Segundo ele, será necessário que prédios sejam erguidos de maneira diferente e fiquem mais distantes de rios.

Afirma que é preciso promover a recuperação de mata nativa em áreas ocupadas pela agricultura. "Não dá pra ocupar todas as margens para colher mais dez sacas de soja", frisa.

Ressalta que preservar rios e banhados é mais barato e eficiente do que construir barreiras. "Precisamos deixar a água passar, não ficar pensando em contê-la", frisa Menegat, um dos coordenadores do "Atlas ambiental de Porto Alegre".

 

Esponja

O geólogo destaca que, nos últimos anos, uma série de fatores contribuiu para a diminuição da capacidade de o solo absorver água da chuva. Cita a expansão agrícola e a flexibilização de leis ocupação de solo em Porto Alegre e da legislação ambiental gaúcha.

Corredores

Para ele, margens do lago Guaíba, que banha Porto Alegre, deveriam passar por recuperação ambiental, com a criação de corredores ecológicos; a construção de prédios no local teria que ser interrompida. "Nossa água vem do Guaíba, que precisa ser cuidado", diz.

Estrutura deficiente colaborou para a tragédia

Água do Guaíba inundou a capital gaúcha | Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil

O aquecimento global, a consequente mudança climática e o aumento da intensidade da chuva estão entre os fatores que, para ele explicam a dimensão dos danos. Depois, vem a ocupação desordenada do solo em áreas rurais e urbanas — o geólogo lembra que Porto Alegre, no nível do mar, recebe rios que descem de regiões de planalto.

Para o professor, a falta de uma estrutura de defesa civil também foi determinante para o tamanho do problema. Frisa que não basta fazer alertas, é preciso que a população seja treinada e saiba para onde ir em caso de emergência: "Não podemos ficar resgatando pessoas no telhado", afirma.

Educação

Menegat afirma que é preciso também investir num processo de educação para que os cidadãos saibam conviver com um fenômeno que vai se agravar. Cita o exemplo de japoneses e americanos que são instruídos sobre como reagir em caso de terremotos.

Convivência

"Não podemos só pensar em fazer pontes mais fortes, talvez não seja necessário reconstruir todas. É preciso tratar do tema com inteligência, temos que aprender a habitar com as águas", propõe. Para ele, casas sobre palafitas poderiam ser feitas em ilhas do Guaída.

Riscos

O geólogo lembra que o problema pode piorar, já que há ameaça de rompimento de diques de contenção do Guaíba que estão sofrendo muita pressão. Ressalta outro drama: a situação das cerca de 400 crianças foram separadas dos pais nas operações de salvamento.

Revolta

O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) fez chegar ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sua indignação com Lula — no Rio Grande do Sul, o petista disse que parte dos problemas da chuva poderia ser suprida com a destinação de emendas parlamentares.