A preocupação do presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), em evitar que a candidatura a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) seja identificada com Jair Bolsonaro foi o motivo principal de sua rápida resposta, semana passada, a Lula.

No 1º de Maio, o presidente da República chamou a eleição paulistana de guerra, pediu votos para seu candidato, Guilherme Boulos (Psol), e disse que ele enfrentaria um adversário municipal, estadual e nacional, numa referência ao ex-presidente.

Ainda na tarde de quarta, Baleia ressaltou no X (ex-Twitter) que o MDB ocupa três ministérios, tem uma postura "colaborativa-propositiva" e apresentou ideias adotadas pela administração federal — passou ao largo de Bolsonaro e ressaltou ligações com o governo petista.

Na avaliação de Baleia, os votos dos eleitores de Bolsonaro são fundamentais para que Nunes consiga a reeleição. O partido, porém, teme que a rejeição ao ex-presidente contamine o atual prefeito. Daí a pressa em frisar que ele é candidato do MDB, não do bolsonarismo.

A reação ao discurso de Lula foi discutida entre Baleia e assessores. Houve a decisão de fazer uma postagem que expressasse um descontentamento com o presidente e que, ao mesmo tempo, evitasse dar corda à polarização nacional que o PT incentiva na cidade.

A reação do presidente do MDB teve também o objetivo de ressaltar sua posição dentro do próprio partido. Reeleito no ano passado para o cargo, Baleia avalia que a reeleição de Nunes é importante para que ele continue no comando da agremiação — até porque não descarta a possibilidade de um emedebista ser candidato a vice-presidente na chapa de Lula em 2026.

Governador do Pará, Helder Barbalho é, entre os integrantes do MDB, o que mais ameaça fazer sombra a Baleia. A mãe de Helder, Elcione Barbalho, é a vice-presidente do partido; o irmão dele, Jader Filho, é ministro das Cidades; o pai, Jader, tem cadeira de senador.

Presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vai mesmo fatiar a relatoria da regulamentação da reforma tributária. O projeto do governo será entregue a cinco ou seis deputados, encarregados de avaliar o texto e de propor mudanças. Avalia que isso diluirá as presssões.

Aliados de Lira avaliam que isso tende a dar confusão, impedir a unidade do texto e complicar o trabalho no plenário, já que um relatório deverá apresentar contradições em relação a outro. Lira diz que até 17 de julho, quando começa o recesso, tudo terá sido votado.

Autor de "Histórias do sindicalismo no Brasil e outros ensaios", Michel Zaidan Filho vê com preocupação o futuro da organização de trabalhadores. "É um desafio para o direito, para o governo e para sindicalistas", diz o professor da Universidade Federal de Pernambuco.

Para ele, o fim abrupto do imposto sindical e fatores como a pejotização e precarização do trabalho, o fim das macropolíticas de emprego e renda, o "mito do empreendedorismo", a fragmentação e a disputa do Judiciário com o Parlamento contribuíram pro problema.