Por: Fernando Molica

CORREIO BASTIDORES | Fiasco no 1º de Maio alerta petistas e governo

Lula participou de ato esvaziado em São Paulo | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O fracasso do ato em comemoração ao 1º de Maio em São Paulo reforçou as discussões no PT e no governo sobre a necessidade de o presidente Lula atualizar sua percepção sobre perfil e expectativas dos trabalhadores.

Partidários do presidente reconhecem que o fim da obrigatoriedade do imposto sindical em 2017, no governo de Michel Temer (MDB), afetou muito o trabalho das entidades e comprometeu a organização dos trabalhadores. Mas frisam que mudanças nas relações trabalhistas foram decisivas para mudanças na percepção deste universo.

Para petistas, Lula mantém um visão do trabalho antiga, baseada na própria história de vida, uma ascensão ocorrida num período de crescimento da indústria brasileira então capaz de gerar muitos empregos qualificados.

 

Empregos

Dados da Confederação Nacional da Indústria mostram que, ainda hoje, os salários pagos pelo setor estão acima da média nacional. O problema é que o número de empregados — 10,3 milhões — representa apenas 21,2% dos trabalhadores formais do país.

Quedas

Em 2023, a participação da indústria de transformação no produto interno bruto ficou em 10,8%: foi o quinto recuo anual consecutivo e o menor índice desde 1996 — neste ano, o setor representava 17% do PIB nacional. A queda gerou redução nos postos de trabalho.

Trabalhadores ficaram mais individualistas

Câmara debate trabalho de motoristas de aplicativos | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Para muitos integrantes do PT, Lula e o ministro do Trabalho, Luiz Marinho (como o presidente, um ex-metalúrgico e ex-sindicalista), ainda não perceberam de todo as mudanças do perfil do trabalhador. A convivência no chão da fábrica e a prosperidade do setor industrial incentivavam a luta coletiva, a busca de melhores salários e a decretação de greves.

A precarização do emprego, a mudança na legislação, a maior oferta de trabalho no setor terciário (especialmente em serviços) e o fenômeno da uberização mudaram esse universo: o trabalhador, hoje, é mais individualista, menos receptivo a projetos coletivos.

Rejeição

A regulamentação do trabalho de motoristas de aplicativos é um exemplo do tamanho da dificuldade. O projeto, alerdeado por Lula, acabou se transformando num problema, já que muitos trabalhadores rejeitam a indução à sindicalização e o pagamento à previdência.

Transferência

Petistas frisam que, na quarta, Lula disse que o ato havia sido mal convocado e citou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macedo, segundo ele, "responsável pelo movimento social brasileiro". Ou seja, transferiu para o governo uma tarefa da sociedade.

Humor de Lira

O recesso informal da Câmara dos Deputados — que pegou carona no 1o de Maio — deixou para a próxima terça uma avaliação mais precisa de como Arthur Lira (PP-AL) vai encaminhar o processo de discussão do projeto que regulamenta a reforma tributária.

Contra fatiar

O presidente de um partido do Centrão disse à coluna discordar da possibilidade de Lira entregar a proposta a quatro relatores; para ele, isso tiraria a unidade do texto. Defende que Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que relatou a PEC da reforma, fique com a tarefa.