Por: Fernando Molica

O triste fim de Sérgio Moro

Senador Sergio Moro caminhando no senado Federal. | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

O pedido do senador Sérgio Moro (União-PR) para uma conversa com o ministro Gilmar Mendes reforça o tamanho do erro que ele cometeu ao migrar para a política, atividade que abraçou, de maneira dissimulada, ainda nos tempos da Lava Jato. Ao largar a toga e virar ministro de Jair Bolsonaro, Moro apenas formalizou sua adesão a uma militância que já exercia.

A tentativa de conciliação com o ministro do Supremo Tribunal Federal foi mais um episódio constrangedor no currículo do homem que chegou a mandar um ex-presidente da República para cadeia. Depois de romper de forma retumbante com Bolsonaro, Moro, isolado politicamente, viu-se constrangido a buscar uma reaproximação com o ex-chefe, a quem acusara de tentar usar a Polícia Federal em proveito próprio. Acabou virando assessor de palco do então presidente que buscava a reeleição.

Agora, ameaçado de perder o mandato de senador, não se incomodou de engolir outro sapo gigante ao decidir pedir a bênção daquele se transformara no maior inimigo da Lava Jato no STF. Revelado pela jornalista Mônica Bergamo, o encontro com Mendes, de acordo com vários relatos, foi terrível para o ex-magistrado.

O juiz que foi visto como herói por boa parte da população foi obrigado a ouvir críticas e ironias pronunciadas no corretíssimo português de Mendes, um magistrado que, diferentemente de Moro, sabe atuar muito bem no campo político. Nomeado para o STF por Fernando Henrique Cardoso, ele tem conseguido, nesses 22 anos de atuação, manter boas relações com todos os presidentes da República, mesmo com aqueles prejudicados por decisões de sua lavra.

O Mendes que se tornaria crítico implacável da Lava Jato é o mesmo que, em 2016, utilizou um desmando de Moro para cancelar a nomeação de Lula para ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff. O então ex-presidente sequer havia sido denunciado pelo Ministério Público e se viu deposto do cargo com base numa gravação ilegal, feita fora do horário determinado pelo então juiz da 13a Vara Federal de Curitiba. A canetada de Mendes corroborou a transgressão cometida por Moro e foi decisiva para o impeachment de Dilma.

Diferentemente do senador paranaense, Mendes sabe ler o mapa político, conhece a movimentação dos astros, sabe diferenciar estrelas de cometas, administra muito bem sua força. Tanto que manteve diálogo com Bolsonaro e se recompôs com Lula, outro que sabe andar no universo sempre mutante do poder.

Mesmo que a Justiça Eleitoral preserve seu mandato, Moro foi ao chão, não vai ser fácil dar a volta por cima. Ao usar o martelo dos tribunais como ferramenta de militância, Moro fez uma espécie de concorrência desleal, marcou gols com a mão. Tentou repetir na política as forçadas de barras e pedaladas processuais que sustentaram a Lava Jato, e se deu mal. Hoje, transita com dificuldades nos universos político e judiciário.

De tanto cometer erros em sua trajetória, o ex-juiz perdeu o equilíbrio, não consegue andar com as próprias pernas, é obrigado usar paredes como apoio, alterna direções, vai pra lá e pra cá. Ele tinha conseguido se reabilitar junto à militância bolsonarista, mas a simpatia demonstrada na sabatina de Flávio Dino, então candidato ao STF, fez novamente desabar seu prestígio na extrema direita. Naquele dia ficou evidente sua busca de algum respaldo na suprema corte do país.

A visita a Mendes ressalta a falta de rumos de Moro. Mostra o tamanho de seu pecado original, o de deixar que a sua ambição e a sua visão ideológica afetassem seu papel de juiz. Seus erros foram tantos que permitiram a anulação de muitas de suas decisões. O jeito agora é seguir o conselho do ministro do STF e se enfurnar na Biblioteca do Senado.

 

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