Por: Fernando Molica

Correio Nacional | Para sociólogo, conflito favorece moderados e a paz

Michel Gherman: radicais enfraquecidos | Foto: Reprodução

Para o sociólogo e historiador Michel Gherman, o novo conflito entre Israel e o Hamas, aponta, de forma aparentemente contraditória, para uma maior chance de paz. Pivô de uma discussão na PUC-RJ que provocou sua retirada de um debate sobre o ataque terrorista a Israel, Gherman ressalta que a guerra favorece o enfraquecimento de setores radicais dos dois lados.

À coluna, o professor da UFRJ ressaltou o silêncio "muito forte", desde o início dos ataques, da Autoridade Nacional Palestina. Rival do Hamas, a ANP defende acordos de paz e controla a Cisjordânia. Ele citou pesquisa em que 86% dos israelenses querem a renúncia do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, citado por 56% como principal responsável pela nova crise.

 

Hezbollah

Para ele, a atitude do Hamas fortalece a ANP. Apesar dessa expectativa, Gherman não descarta uma ampliação do conflito depois de ataque do Hezbollah que matou um israelense e da perspectiva de entrada do Irã e de uma maior influência da Rússia.

"Ralo da guerra"

Gherman afirma que uma invasão por terra de Israel a Gaza atiçará ainda mais a participação do Hezbollah, grupo e partido político xiita baseado no Líbano. Todo o processo, diz, fortaleceria a "estratégia do Hamas de "jogar todo mundo no ralo da guerra".

Gherman defende a solução de dois estados

Brasileiros que estavam em Israel chegam em Brasília | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Apesar da perspectiva de paz a partir de um esperado enfraquecimento de setores radicais, Gherman acredita na possibilidade de uma imediata expansão do conflitos. Isto, por interesses geopolíticos que incluem a influência russa e a busca do Irã de redefinir fronteiras no Oriente Médio.

Judeu, Gherman defende a solução de dois estados independentes, que inclui o fim dos ataques terroristas e a devolução dos territórios ocupados há décadas por Israel. Para ele, isso permitiria também uma mudança na maneira com que jovens judeus veem Israel, faria com que o exército e o serviço militar deixassem de ser uma "refência identitária".

Antissemitismo

"Israel é um país muito interessante, rico na educação e na cultura, é preciso superar a lógica da ocupação, não é preciso entrar na casa dos outros", afirma. Ele também se diz preocupado com a detecção, nas redes sociais, de 26% crescimento do antissemitismo no Brasil.

Caso PUC

Ele lamenta o ocorrido na PUC e ressalta que não pode ser visto como antissemita e defensor do Hamas. Afirma que o episódio mexeu muito com ele. "Perdi gente pra caramba no ataque", frisa. Frisa também a necessidade de a esquerda não tratar o Hamas como herói.

Novo debate

Gherman aceita voltar a conversar com o mesmo grupo de estudantes que o hostilizou, mas numa universidade pública ou em organização judaica. Diz ter proximidade com aqueles alunos da PUC e que não pode falar em nome de uma comunidade tão plural.

Bolsonaro

Gherman é autor de, entre outros livros, "O não judeu judeu: A tentativa de colonização do judaísmo pelo bolsonarismo" (Fósforo). O livro tem como referência a palestra, em 2017, de Jair Bolsonaro na Hebraica, clube judeu que fica em Laranjeiras, Zona Sul do Rio.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.