BRASILIANAS | Confusão sobre permanência da estátua soa disputa eleitoral
Sob gestão do Senac-DF como café-escola, o local já recebeu cerca de 250 mil visitantes em 18 meses
Sob gestão do Senac-DF como café-escola, o local já recebeu cerca de 250 mil visitantes em 18 meses
A confusão em torno da estátua não se restringe a uma questão burocrática do tombamento - que poderia ser facilmente contornada. Vale lembrar que o governador Ibaneis Rocha (MDB) foi um dos entusiastas da revitalização da Casa de Chá, que era um espaço sob gestão exclusiva da Secretaria de Turismo do DF.
No evento de segunda-feira, dois secretários do governo Ibaneis estavam presentes na cerimônia (o de Turismo e o de Governo). Eles lembraram, em discurso, que o local havia sido resgatado e estava novamente sendo prestigiado pelos turistas e moradores do DF por conta do trabalho e empenho dos empresários da cidade. Aliás, havia uma expressiva presença deles na Casa de Chá, capitaneados pelo presidente da Fecomércio-DF, José Aparecido.
Sob gestão do Senac-DF como café-escola, o local já recebeu cerca de 250 mil visitantes em 18 meses.
O Iphan, por sua vez, é dirigido por Leandro Grass, agora no PT, que foi adversário de Ibaneis na última eleição (pelo PV) e que agora é pré-candidato ao Palácio do Buriti, novamente. O Iphan já foi acusado pela equipe de Ibaneis, por mais de uma vez, de atrasar e de não dar atenção devida à Praça dos Três Poderes, que segue ainda sem reformas.
A controvérsia expõe um dilema recorrente em Brasília: como conciliar homenagens culturais com a rigidez das normas de preservação em áreas tombadas. De um lado, familiares e artistas defendem o valor simbólico da escultura, que aproxima o público da memória de Niemeyer. De outro, o Iphan reafirma sua função de guardião do projeto urbanístico original da capital, lembrando que qualquer intervenção precisa de autorização prévia.
Tudo com um toque eleitoral, para deixar a questão ainda mais dramática.
Evento com tom afetivo
Se não houvesse o imbróglio entre o Iphan e Senac-DF, a festa teria sido especial. O escultor Leo Santana defendeu o caráter artístico da obra e explicou sua escolha estética: “Eu quis retratar Niemeyer no vigor da época em que projetou Brasília. Mantive a essência, mas decidi fazê-lo de forma mais despojada, como na época da construção da capital”.
Já o neto de Niemeyer, Carlos Eduardo Niemeyer, reforçou o valor afetivo da homenagem e se emocionou ao falar sobre o avô, em discurso: “(Você) me ensinou que a vida vem antes de qualquer obra e talvez seja por isso que tudo que você criou continue vivo. A Casa de Chá sempre me pareceu um abraço seu. Estar aqui hoje inaugurando uma escultura sua me emociona”.
