BRASILIANAS | Hospital pioneiro no DF já reabilitou mais de 4 mil animais silvestres em dois anos

Estrutura inédita no país alia tratamento físico, nutricional e comportamental para devolver espécies ao Cerrado; monitoramento pós-soltura garante equilíbrio ecológico

Por William França

O monitoramento pós-soltura, realizado com colares GPS e armadilhas fotográficas, garante informações sobre adaptação, deslocamento e papel ecológico das espécies

Estrutura inédita no país alia tratamento físico, nutricional e comportamental para devolver espécies ao Cerrado

Monitoramento pós-soltura garante equilíbrio ecológico

O Hospital e Centro de Reabilitação da Fauna Silvestre (Hfaus), vinculado ao Instituto Brasília Ambiental e gerido pela Sociedade Paulista de Medicina Veterinária (SPMV), é referência nacional por oferecer atendimento integrado com foco na reintegração dos animais ao habitat natural.

Desde a inauguração do Hfaus, em fevereiro, até dezembro de 2024, foram atendidos 1.953 animais — 61% aves, 37% mamíferos e 2% répteis.

Em 2025, esse número já chegou a 2.274 indivíduos, com perfil semelhante: predominância de aves, seguida por mamíferos e répteis. As espécies mais comuns incluem saruê, periquito-de-encontro-amarelo, sagui-de-tufos-pretos e coruja-buraqueira. A maioria dos casos envolve cuidados neonatais (filhotes e jovens) e lesões ou fraturas.

A estrutura do hospital foi planejada para reduzir o estresse dos pacientes, com alas separadas para mamíferos, aves e répteis, evitando contato entre presas e predadores. Além disso, casos complexos, como os de carnívoros — grupo que inclui o lobo-guará — recebem protocolos específicos.

Em 2024, foram atendidos 19 indivíduos da ordem carnívora, dos quais 11 receberam alta. Em 2025, esse número subiu para 22 atendimentos, com 12 altas até o momento.

Os meses de setembro e outubro concentram os maiores índices de atendimento, reflexo do período reprodutivo e do aumento de deslocamentos. Entre os animais encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas-DF), 407 retornaram à natureza em 2024, reforçando a eficácia do trabalho de reabilitação.

Mateus H Souza/Agência Brasília - A fêmea respondeu rápido ao tratamento e, em um mês, foi liberada para soltura em área preservada

Ampliar monitoramento

O monitoramento pós-soltura, realizado com colares GPS e armadilhas fotográficas, garante informações sobre adaptação, deslocamento e papel ecológico das espécies. Essa estratégia é essencial para manter o equilíbrio do Cerrado, bioma que depende de predadores como o lobo-guará para controle populacional.

A meta para 2025 é ampliar a rede de monitoramento, que já conta com cerca de 30 câmeras distribuídas em áreas protegidas, como APA Gama–Cabeça de Veado e Parque Distrital dos Pequizeiros.

"O projeto evoluiu para um programa oficial, com previsão de expansão e inclusão de novas espécies", concluiu Marcos João da Cunha, superintendente do Brasília Ambiental.

A estrutura, inaugurada em fevereiro de 2024, é a primeira do país a reunir equipe multidisciplinar — veterinários, biólogos e especialistas em comportamento — para cuidar da saúde física, nutricional e psicológica dos pacientes.

Orientação ao público: em caso de avistamento ou resgate de animal silvestre, nunca intervenha diretamente. Acione os órgãos competentes pelos telefones 190 (BPMA) ou 193 (Corpo de Bombeiros Militar do DF).