BRASILIANAS | 'Nem tudo que é sólido, desmancha no arado' celebra 20 anos de carreira de João Angelini
Exposição traz 50 trabalhos do artista multidisciplinar. Escolha de Planaltina tem caráter afetivo
Exposição traz 50 trabalhos do artista multidisciplinar. Escolha de Planaltina tem caráter afetivo
Para comemorar duas décadas de trabalho, no dia 20 de setembro, a partir das 18h, no Pé Vermelho – Espaço Contemporâneo, o artista visual planaltinense João Angelini realiza a mostra “Nem tudo que é sólido, desmancha no arado”.
Com curadoria de Luciana Paiva e de Paulo Henrique Silva, a mostra passa em revista a produção do artista com a apresentação de 50 trabalhos e experiências vídeo, animação, desenho, gravura, holografia, instalação e pintura. Dispostas em ordem alfabética, elas compõem a exposição apresentando um recorte da produção de João Angelini e revela o alcance multidisciplinar do artista.
Em exibição até o dia 23 de novembro, a mostra tem visitação de quinta a domingo, das 17h às 21h, e conta com educativo para visitas mediadas. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos.
O Pé Vermelho – Espaço Contemporâneo fica na Avenida 13 de maio, Quadra 57, Lote 6 – Setor Tradicional, Planaltina – DF. No Instagram e no Facebook @pervermelhoec. Este projeto é realizado com o patrocínio da Política Nacional Aldir Blanc – Distrito Federal (PNAB-DF).
Em “Nem tudo que é sólido, desmancha no arado”, Angelini apresenta um recorte amplo de sua produção. As obras partem de um eixo conceitual: O tensionamento entre a modernidade urbana de Brasília e a ruralidade colonial do Goiás, com seus desdobramentos históricos, políticos e ambientais. Questões como ocupação territorial, táticas de controle social, violência estrutural e ecocídio no Centro-Oeste são abordadas de forma poética e crítica, a partir de uma perspectiva enraizada no território e na vivência periférica do próprio artista.
A escolha de Planaltina como sede da mostra tem caráter afetivo, político e simbólico. Apesar da extensa circulação nacional e internacional – com participação em mais de 100 exposições, 29 prêmios e obras em acervos como Museu de Arte de Brasília (MAB), Museu de Arte do Rio (MAR), Pinacoteca de São Paulo, Museu da Fotografia de Fortaleza e Coleção Itaú Cultural –, Angelini nunca havia realizado uma individual em sua cidade natal. Trazer essa retrospectiva para o lugar de origem é, segundo o artista, “trazer para o território o que por tanto tempo foi extraído e circulou fora dele”.
Séries, gestos e suportes
A curadora da mostra Luciana Paiva ressalta a importância da experimentação e da diversidade de gestos e linguagens dos trabalhos na produção do artista, como vídeo, performance, objeto e gravura, além dele repensar as mídias tradicionais como a pintura. “A série de pinturas "A Seco" é uma das mais conhecidas de Angelini. Ela consiste em um gesto inverso ao de acrescentar camadas de tinta na tela para se formar uma imagem, já que neste processo a imagem se define pela retirada de camadas que revelam as cores submersas a partir de uma estratificação.
Esse pensamento, que tem algo de científico, demonstra a predileção do artista por compreender o funcionamento das coisas e está na base da maioria de seus trabalhos. Pode ser observado desde um de seus trabalhos mais antigos que vai integrar a mostra, o vídeo "Barras e tons" (2005)”, afirma Luciana.
Luciana Paiva assegura que a entrada de João no Grupo EmpreZa contribuiu muito com os aspectos formais e técnicos dos trabalhos, agregando um pensamento voltado para o vídeo e a fotografia. Além do registro das performances, alguns trabalhos começaram a ser pensados especificamente para essas mídias. Por outro lado, “o EmpreZa trouxe uma enorme influência para o trabalho autoral do João, que é o pensamento cerratense”, diz a curadora. “É a partir do convívio com o EmpreZa que João assume e incorpora em seu trabalho aspectos da paisagem, do imaginário e do vocabulário goiano, do centro-oeste e do cerrado.”
Para além da territorialidade e das tensões sociais, a produção de Angelini se organiza em torno da transformação da matéria em tempo e do processo como linguagem: imagens que se apagam, poeira que cai, pedra que se desgasta, desenhos que viram filme e retornam ao espaço expositivo. O gesto — do ofício manual às rotinas de controle do Estado — torna-se tema e método, revelado por técnicas minuciosas de raspar, gravar, mapear luz e combinar objeto e vídeo. A escolha de materiais não é neutra: mármore, terra vermelha, cinza, osso, esmalte e entulho atuam como arquivos de história, fazendo do suporte um documento.
O Paulo Henrique afirma que a obra do artista é atravessada pela fricção entre ruralidade e modernidade; o embate entre a promessa modernista e seus restos; a crítica ao extrativismo e às economias que uniformizam a paisagem; a arqueologia das instituições (camadas que revelam memórias de lugar); a cartografia e os mitos fundacionais; o jogo entre ilusionismo técnico e precariedade deliberada; e uma ética de transparência que aproxima o público do “como” das coisas, não apenas do “o quê”. “É nesse campo de tempo, gesto e matéria que trabalhos de períodos distintos se reconhecem e se tensionam”, diz Paulo Henrique.
O colonial e o moderno
Paulo Henrique enfatiza a fricção entre matéria, tempo e território. “É um eixo que atravessa os vinte anos de pesquisa de João Angelini, a partir de três vetores — “Deserto Verde”, “Céu de Mármore” e “Nem tudo que é sólido, desmancha no arado "", diz o curador. Em “Deserto Verde” e “Céu de Mármore”, é importante destacar, no conjunto de trabalhos apresentados, como a monocultura de soja e milho impõe ao Cerrado uma pele uniforme que parece abundância, mas produz empobrecimento; em paralelo, o “Céu de mármore” convoca tanto o material empregado nas obras quanto a rigidez simbólica que o artista utiliza para referenciar a modernidade brasiliense.
Já em “Nem tudo que é sólido desmancha no arado”, João sinaliza e chama atenção para um “desmanchar” que não é desaparecer, mas, sim, uma mudança de estado. A forma se converte em duração, como no processo fotográfico, enquanto o arado evoca o solo preparado para um único cultivo, um lugar esvaziado, onde memórias se desfazem na poeira.
“Essa ênfase torna visíveis as continuidades entre a ruralidade colonial goiana e a utopia moderna de Brasília, os ciclos de ocupação territorial no Centro-Oeste e as violências, do ecocídio ao genocídio, que estruturam o país. Ao sublinhar essa passagem da matéria ao tempo, do gesto ao território, esse enfoque evidencia a unidade ética e poética que costura sua produção ampla e reconhecida”, ressalta o curador.
Sobre o artista
João Angelini mora em Planaltina, na periferia rural de Brasília. A cidade é uma fonte de imagens, situações e informações para muitas de suas obras. Seu trabalho tem como enfoque as questões processuais, as reflexões dos modos de fazer, os limites e as convergências de linguagens e técnicas artísticas.
Suas pesquisas se desdobram em diversos meios como gravura, pintura, teatro, fotografia, vídeo, música, animação e performance. Muitas de suas obras mesclam métodos e suportes. O que de fora parece muita informação para lidar e poderia gerar confusão, para ele não é. “Tenho uma cabeça que separa as linhas de produção”, esclarece. Além de sua produção individual, o artista fez parte do coletivo EmpreZa, grupo de performance, e atua como professor. Em 2019, junto com Luciana Paiva e Marcela Campos, fundou o Pé Vermelho – Espaço Contemporâneo.
Sobre os curadores
Luciana Paiva é artista, participa de exposições regulares desde 2004 atuando também como professora e na organização e curadoria de eventos em arte. Bacharel em Artes Visuais, mestre em Poéticas Contemporâneas e doutora em Métodos e Processos em Arte pela Universidade de Brasília (PPGAV/UnB). Desde 2017 integra o grupo de artistas-gestores do Pé Vermelho Espaço Contemporâneo em Planaltina – DF.
Em 2011 cursou o Programa Aprofundamento da Escola de Artes Visuais do Parque Lage no Rio de Janeiro e participou do “Rumos de Artes Visuais 2011-2013”. Em 2019, foi uma das artistas selecionadas para o 29o Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo apresentando a exposição individual Cidade Partida. Em 2022, realizou a exposição individual “Ar-reverso” no Espaço Cultural Renato Russo em Brasília. Seu trabalho artístico lida com a visualidade e materialidade do texto, a ilegibilidade e a estrutura da linguagem. Faz uso de procedimentos construtivos e desconstrutivos para reconfigurar elementos da paisagem urbana, da arquitetura e dos códigos da escrita.
Luciana Paiva e João Angelini são amigos desde a graduação (UnB), em 2002. “Desde então acompanhamos, participamos e colaboramos com o trabalho um do outro”, afirma Luciana. Trabalharam juntos na fundação e hoje fazem a gestão do Pé Vermelho - Espaço Contemporâneo em Planaltina (DF) em conjunto com Marcela Campos, LuFerris e uma ampla rede de colaboradores.
“Antes disso, fizemos algumas parcerias para realização de exposições coletivas e colaborações em trabalhos, como a exposição "O Pornógrafo" (2004) e as animações "Linhas" (2011) e "Paisagem Pautada" (2016). Também trabalhamos simultaneamente durante um período como professores da Faculdade de Arte Dulcina de Moraes e pudemos compartilhar alguns projetos, curadorias e orientações”, completa a curadora.
Paulo Henrique Silva foi aluno e professor na Escola de Artes Oswaldo Verano, mantida pela Prefeitura de Anápolis (GO), e graduou-se em Artes Visuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Desde 2004, dedica-se à curadoria, com foco no estudo e na pesquisa da arte contemporânea produzida na Região Centro-Oeste do Brasil.
Projetos recentes incluem as mostras Entre Acervos, Dialetos 1 e 2, Novas Aquisições, Um Acervo em Construção, Fotografia no Acervo do Mapa, Conversas – resistência e convergência e Vozes do Silêncio. Foi curador em mais de onze edições do Salão Anapolino de Arte e tem contribuído significativamente para a ampliação do acervo do MAPA e o fortalecimento da arte contemporânea no interior do Brasil. De 2020 a 2024, foi responsável pela Coordenação do Fundo Municipal de Cultura e Editais, Curadoria e Gestão do MAPA e da Galeria de Artes Antônio Sibasolly, em Anápolis.
Paulo Henrique Silva e João Angelini se conheceram em 2005, no 14º Salão Anapolino de Arte, do qual Paulo Henrique era curador e João Angelini foi premiado pela primeira vez. Desde então, juntos trabalharam em duas edições do Salão Anapolino, na Galeria de Artes Antônio Sibasolly, em Anápolis (GO); 1º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Goiás, no Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC), em Goiânia (GO); no Conversas: Resistência e Convergência, na Casa das Onze Janelas, em Belém (PA), e no MAC, em Goiânia (GO); Fotografias e vídeos no acervo do Mapa; Casa de la Cultura, Buenos Aires, Argentina.
Serviço
Nem tudo que é sólido, se desmancha no arado
De João Angelini | em comemoração aos 20 anos de trajetória
Vídeo, animação, desenho, gravura, holografia, instalação e pintura
Curadoria | Luciana Paiva e Paulo Henrique Silva
Abertura | 20/09, a partir das 18h
Visitação | Até 23/11
De quinta a domingo, das 17h às 21h
Mediante agendamento pelo e-mail pevermelho@pevermelho.art
Onde | Pé Vermelho - Espaço Contemporâneo
Av. 13 de maio, quadra 57 lote 6 - Praça São Sebastião
Planaltina-DF
Entrada | Gratuita
Classificação indicativa | Livre para todos os públicos
Instagram | @pevermelhoec
Facebook | facebook.com/pevermelhoec
Informações para a imprensa
Agenda KB Comunicação
Contato: Luiz Alberto Osório
E-mail: luiz.alberto@agendakb.com.br
Telefone: (61) 98116-4833
