Por: William França

BRASILIANAS | DF é líder no uso de cigarros eletrônicos no país

No VAPE, já foram identificadas mais de 80 substâncias danosas inaladas, incluindo o sal de nicotina, que apresenta absorção mais rápida e quatro vezes mais potencial de causar dependência química frente à nicotina da folha do tabaco | Foto: Internet

Percentual de adultos que fazem uso de cigarro eletrônico diariamente ou ocasionalmente foi de 5,7% dos entrevistados, quase 3 vezes a média nacional

Levantamento apresentado pela Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) na semana passada, por ocasião do Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado na sexta-feira (29), indica que o Distrito Federal está em primeiro lugar dentre as Unidades da Federação quando se trata do consumo de cigarros eletrônicos, tecnicamente denominado "dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs)".

O DF aparece com 5,7% de sua população tendo usado cigarros eletrônicos em 2023 (último ano divulgado). Em segundo, aparece Florianópolis (SC), com 4% de usuários, seguido pela cidade de São Paulo (SP), com 3,4%. A média nacional é de 2,1%.

Embora não tenha sido divulgado o detalhamento por Estado, nacionalmente são os jovens entre 18 a 24 anos que mais consomem os cigarros eletrônicos (6,1% dos entrevistados). O levantamento indica que houve também um aumento significativo de consumo de cigarros eletrônicos entre adultos de 45 a 54 anos.

Os dados são do Vigitel Brasil 2023 (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico), pesquisa que é coordenada pelo Ministério da Saúde.

 
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De acordo com pesquisa do Ministério da Saúde, 8,4% da população adulta do DF é fumante | Foto: Matheus Oliveira/ Arquivo Agência Saúde-DF
Redução no consumo de tabaco

De acordo com o Boletim Epidemiológico de Controle do Tabagismo, em 2023, a prevalência de pessoas que usam tabaco no Distrito Federal foi de 8,4%, totalizando 204.883 usuários. Em meio a oscilações, o número reduziu em comparação com 2019, quando o índice era de 12%, com 271.818 usuários. O boletim foi publicado em 15 de agosto pela Gerência de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde (GVDANTPS) da SES-DF.

O coordenador do Programa de Controle do Tabagismo no DF, Saulo Viana, analisa o cenário com preocupação. "O DF deu uma melhorada em relação à prevalência de cigarros e ficou em 14º entre as unidades da Federação. Mas, no uso de cigarro eletrônico, o DF está em primeiro lugar. Os jovens estão utilizando VAPE cada vez mais cedo. E a dependência da substância sintética é bem maior", relata. "Os cigarros eletrônicos, muitas vezes apresentados como alternativa mais segura aos cigarros ditos convencionais, não são inofensivos."

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O DF aparece com 5,7% de sua população tendo usado cigarros eletrônicos em 2023, o maior índice do país | Foto: Internet

Programa de Controle do Tabagismo

Em 2024, o Programa de Controle do Tabagismo da SES-DF atendeu 1.728 pacientes. Já no primeiro quadrimestre de 2025, 800 pessoas procuraram o serviço gratuito buscando parar de fumar. O programa oferece atendimento médico, acompanhamento profissional e medicamentos (quando necessário).

Nancilene Melo, referência técnica em tabagismo da SES-DF, destacou que a indústria busca modificar cheiro, sabor e aparência dos vapes como estratégia para atrair mais jovens ao consumo. A especialista reforça que não existe nível seguro de exposição ao tabaco e todas as formas de uso são prejudiciais. "Os cigarros eletrônicos, muitas vezes apresentados como alternativa mais segura aos cigarros ditos convencionais, não são inofensivos. Eles contêm nicotina altamente viciante e diversos compostos químicos que podem causar inflamações, lesões pulmonares e prejuízos cardiovasculares", alerta.

Segundo Melo, o uso por adolescentes e jovens é especialmente preocupante, pois o cérebro ainda em desenvolvimento é mais suscetível aos efeitos da dependência. "Estudos mostram que muitos usuários acabam se tornando duplos consumidores, mantendo o cigarro tradicional e o eletrônico. Por trás desses dispositivos com aparência moderna, há uma indústria que se reinventa para manter as pessoas presas à nicotina e aos riscos que ela traz para a saúde".

Alto risco de câncer

O tabagismo ainda é o principal fator de risco para o câncer de pulmão, responsável por cerca de 85% dos casos da doença. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indicam que, entre 2023 e o início de 2025, o Brasil registrou cerca de 704 mil novos casos de câncer por ano, sendo cerca de 32 mil de pulmão.

O subsecretário da Vigilância à Saúde, Fabiano dos Anjos, ressaltou que o controle do tabagismo salva vidas, reduz custos para o SUS e melhora a qualidade de vida. "A Vigilância Sanitária tem atuado de maneira forte no comércio de cigarros eletrônicos, por meio das autuações nas madrugadas, e na educação da população", disse.

A Secretaria de Saúde oferece o Programa de Controle do Tabagismo em 78 unidades de saúde. Os pacientes são avaliados por equipes multiprofissionais, podendo ser encaminhados a tratamentos de condições específicas e convidados a participarem dos grupos.