Guitarrista, compositor, arranjador, criador do Led Zeppelin, Jimmy Page sabia que corria um grande risco ao dar um cavalo de pau no som da banda e partir para um álbum de pegada mais acústica, folk, blues depois dos detonadores álbuns de estreia. Ele nega, mas foi isso o que aconteceu.
Não foi uma decisão emocional. O Zeppelin lançou os explosivos I e II, há 51 anos, em 1969, partindo para uma turnê insana onde não faltaram loucura, hedonismo, excessos e muito, muito cansaço. Mas foi considerada a melhor turnê de rock daquele ano.
O Led Zeppelin III fará 50 anos de idade no dia 5 de outubro deste ano, mas em março de 1970 a banda já estava enfiada em Bron-Yr-Aur, uma casa de campo do século 18 em Gwynedd, País de Gales, numa colina com vista para o Vale do Dyfi.
Para compensar a pauleira do espancamento, Page propôs a Robert Plant, John Bonham e John Paul Jones que se isolassem lá para compor, ensaiar e gravar demos do que viesse à cabeça.
Para isso, alugaram o estúdio móvel dos Rolling Stones.
Jimmy Page conta que “decidimos sair e alugar uma casa de campo, um contraste com quartos de motel. Obviamente, ele teve um grande efeito sobre o material que foi escrito... Foi a tranquilidade do lugar que deu o tom do álbum. Sempre gostei de violão folk e clássico e estar em uma casa sem energia elétrica, foi a vez da guitarra acústica... Depois da vibe pesada e ??intensa de turnês, que se reflete na energia bruta do segundo álbum, no III era apenas um sentimento totalmente diferente.”
Jimmy Page sabia que o Zeppelin III era uma tempestade perfeita. Ele é um cara de opiniões fortes, mas calmo, elegante. Perdeu a cabeça quando só viu a capa do III uma semana antes de entrar em gráfica.
“Isso é coisa de débil mental, parece pijama de criança... cancela tudo”. Não deu tempo e até hoje ele não esconde o horror.
Os fofoqueiros ou, digamos, adoráveis cornos da história acham que o disco foi gravado no mato, em uma espécie de plantação de cogumelos de Guapimirim (muito em voga entre os doidaralhaços nos anos 70), mas eis a verdade, crua.
O III foi gravado entre janeiro e agosto de 1970 no Ardent Studios (Memphis, Tennessee), Headley Grange, (Hampshire), Island Studios, (Londres), Olympic Studios, (Londres), mixado na Island Studios, (Londres) e Electric Lady Studios (estúdio de Jimi Hendrix), Nova York. Ou seja, honoráveis leitores, não existe rock bom grátis.
O disco foi amado e odiado pela crítica. Sem meio termo. O corredor polonês te socos, tapas e chutes no lançamento foi tão forte que Jimmy Page decidiu parar de dar entrevistas durante dois anos e optou pela desinformação na capa do álbum seguinte, Led Zeppelin IV. Na capa, nenhuma informação, nem o nome da banda.
“Eles – os jornalistas – que se virem”, comentou o músico.
O que mais o irritou foram os comentários de que o Led III fora influenciado por Crosby, Stills, Nash & Young. Mais recentemente, Jimmy Page comentou que “quando terceiro LP saiu, Crosby, Stills e Nash tinha acabado de se formar. O LP tinha acabado de sair e por causa de seus violões fizeram escândalo: LED ZEPPELIN FAZ ACÚSTICO! Eu pensei, Cristo, os caras enlouqueceram. Havia três músicas acústicas no primeiro álbum e duas no segundo.”
Todos os detratores do Led Zeppelin III ajoelharam no arroz ao longo dos anos, pediram perdão e reconheceram que o álbum foi o vento encanado mais genial daquele começo da década de 70, pau a pau com “Who’s Next”, do The Who.
O leitor concorda?