Internações em UTIs por Covid em SP estão 85% acima de pico de 2020; há avanço em todas as regiões

O número de pacientes com Covid-19 em UTIs públicas no estado de São Paulo é 85% maior que no período mais crítico de 2020. Em todas as regiões do estado, o volume atual de internados em leitos de terapia intensiva é o maior já registrado em toda a pan

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Flávia Faria (Folhapress)

O número de pacientes com Covid-19 em UTIs públicas no estado de São Paulo é 85% maior que no período mais crítico de 2020. Em todas as regiões do estado, o volume atual de internados em leitos de terapia intensiva é o maior já registrado em toda a pandemia. Nas últimas semanas, foram registradas dezenas de mortes de pacientes à espera de vagas.

Segundo a secretaria estadual de Saúde, há quase 30 mil pessoas hospitalizadas com a doença na rede pública em todo o estado, das quais 12 mil estão em UTIs. A ocupação das UTIs nesta segunda (22) é de 91%, e em pelo menos 60 dos 105 municípios com tratamento intensivo não há mais vagas. A reportagem analisou dados de internações nas 18 regiões de saúde em que o estado é dividido e comparou os números com o pior momento da pandemia em 2020 -o momento do pico varia entre as regiões, mas em geral ocorreu em junho, julho ou agosto. Em todas essas áreas há mais internados agora, e em quatro (Araraquara, Sorocaba, Marília e São João da Boa Vista) o número mais que dobrou.

Não há indícios de que a situação possa melhorar nos próximos dias. O monitor de aceleração da Covid-19, do jornal Folha de S.Paulo, indica que o estado se encontra no estágio acelerado (aumento rápido de novos casos). Considerando apenas as últimas quatro semanas, o total de pacientes hospitalizados (entre terapia intensiva e enfermaria) cresceu 110%: em 21 de fevereiro, eram 13.665, contra 28.638 no domingo (21). Nesse mesmo período, o estado ativou mais de 3.400 leitos de UTI (alta de 38%), mas a demanda por esse tipo de vaga cresceu 85%.

No início deste mês, em entrevista coletiva, o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, afirmou que o estado não tem fôlego para abrir leitos no mesmo ritmo em que têm crescido as internações. "Quando eu falo em aumentar o número de leitos, não é simplesmente um colchão, uma cama e um respirador. Além disso, há a equipe que vai dar assistência a esse paciente. Por isso, eu não abro um leito de um dia para o outro", afirmou.

A situação é mais crítica na região de Bauru, onde a ocupação das UTIs ultrapassa os 90% desde o dia 5 de fevereiro. Desde então, 50 leitos foram ativados, mas a demanda só aumenta. No domingo (22), a ocupação era de 96% nas UTIs. Comparando o cenário desta última semana com outubro de 2020 -pico da pandemia no ano passado na região- houve uma alta de 97% nas internações em UTIs.

Segundo dados da secretaria municipal de Bauru, havia nesta segunda-feira (22) mais de 50 pessoas aguardando por um leito hospitalar, e três delas esperam há mais de oito dias.
A cidade é palco de um conflito entre a prefeita Suéllen Rosim (Patriota) e o governador João Doria (PSDB). A gestão municipal chegou a editar um decreto que ampliava o leque de atividades consideradas essenciais, flexibilizando medidas impostas pelo governo. A lei, depois suspensa pela Justiça, permitia o funcionamento, por exemplo, de shoppings, bares e salões de beleza.

Rosim também participou de uma manifestação crítica a Doria, que pedia a abertura do comércio na cidade. O governador, por sua vez, disse que a prefeita fazia "vassalagem" ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em vez de adotar medidas para frear a contaminação entre os bauruenses. O número de mortos pela doença na cidade chegou a 500 nesta segunda, com o volume de novos casos crescendo aceleradamente desde meados de fevereiro. O isolamento social em Bauru alcançou índice de 49% no domingo, levemente abaixo da média do estado (51%).

Em Araraquara, região que teve o maior salto de internados em relação a 2020 (198%), só 7% dos leitos de UTI estão desocupados. Dos 278 óbitos registrados pela Covid-19 no município, mais da metade ocorreu desde janeiro. Na última semana, houve alta de 15% nos casos. Já a capital paulista, que no momento possui mais de 4.300 pacientes em unidades de terapia intensiva públicas, tem 91% das vagas ocupadas. Hoje, as UTIs públicas paulistanas têm quase mil leitos a mais que em junho, pior mês da pandemia no ano que passou. Ainda assim, a ocupação atingiu seu maior nível nesta semana. Segundo a secretaria estadual de Saúde, até esta segunda o estado de São Paulo soma mais de 2 milhões de casos confirmados e 67, 6 mil mortos pela Covid-19.