Gastos com apostas fazem 34% dos jovens adiarem ingresso na universidade
Pesquisa da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior ouviu 11.762 estudantes na faixa etária de 18 a 35 anos nas cinco regiões do país.
Uma pesquisa da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes), realizada em parceria com a Educa Insights, revela os prejuízos causados pelo vício em bets ou no “jogo do tigrinho” para a formação educacional dos jovens brasileiros. O levantamento mostra que 34% deles não iniciaram o curso de graduação no primeiro semestre de 2025 devido aos gastos com esses tipos de aposta.
O diagnóstico faz parte da Pesquisa ‘O impacto das bets 2 – como as apostas online estão interferindo no acesso dos brasileiros à graduação’. Foram realizadas 11.762 entrevistas na faixa etária de 18 a 35 anos, entre 20 e 24 de março, nas cinco regiões do país.
Entre jovens do Nordeste e do Sudeste, o indicador ficou acima da média geral de 34%. Na primeira região, 44% afirmaram que não iniciaram estudos neste ano por causa de gastos com apostas online. No Sudeste, foram 41%.
Já em relação a 2026, 34% dos jovens, em média, dizem que precisarão interromper gastos em bets para entrar no ensino superior. O quadro é ainda pior entre os integrantes da classe D e E, com renda familiar de R$ 1.000 em média. Nela, 43% afirmam que precisam parar de gastar com apostas online para entrar na universidade —enquanto na classe A, em que a renda familiar é R$ 26,8 mil, o resultado é de 22%.
Impacto também entre matriculados
Apostas online também complicam a vida de jovens de 18 a 35 anos que já estão no ensino superior. Segundo a pesquisa, 14% deles disseram que já atrasaram o pagamento da mensalidade do curso ou tiveram de trancar a graduação. O Sudeste segue a média geral, 14%. No Nordeste, o índice sobe para 17.
A Abmes e a Educa Insights projetam, com base na pesquisa, que mais de 986 mil alunos em potencial podem ficar fora das universidades. O risco do não acesso ao ensino superior, segundo o levantamento, é devido ao montante da renda desses jovens que já está comprometido com apostas online. Os dados foram calculados a partir da pesquisa realizada em março, além das informações da primeira edição do levantamento, divulgada em setembro de 2024.
Atividade física e vida social
Segundo a pesquisa, 24% dos jovens disseram que deixaram de investir financeiramente em academias ou atividades físicas devido ao dinheiro depositado nas casas de apostas. Quando perguntados se deixaram de frequentar restaurantes, bares ou sair com amigos para fazer apostas, 28% responderam que sim.
A maioria dos jovens afirmou que aposta de uma a três vezes na semana. No Sudeste, 41% disseram que seguem essa frequência, no Nordeste foram 40%, enquanto, no Centro-Oeste, 32%.
Os gastos
A pesquisa também analisou o valor gasto pelos jovens nas apostas online. Em 2024, 30,8% responderam que teriam gastado mais de R$ 350 em média nas bets —o índice aumentou para 45,3% na edição deste ano.
O Senado chegou a instalar uma CPI das Bets para analisar a influência das apostas online. O objetivo era apurar também o impacto do fenômeno no orçamento dos brasileiros e na saúde mental. Foram ouvidos influenciadores digitais, como Virgínia Fonseca. A relatora da comissão, a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), chegou a pedir o indiciamento da apresentadora do SBT e de outros influenciadores, mas o relatório apresentado por ela foi rejeitado.
Na terça-feira (8), o Senado adiou mais uma vez a análise do projeto que legaliza cassinos, jogo do bicho e bingos no país. A proposta sofre resistência da bancada evangélica, que é contra a liberação. O texto, entretanto, não aborda as apostas online.