Por: Zeca Ferreira
O passageiro que utilizar o mapa disponível nas estações de trem e metrô para traçar uma rota da região oeste da Grande São Paulo para a capital paulista pode acabar se frustrando.
O documento feito pela STM (Secretaria dos Transportes Metropolitanos), do governo estadual, mostra o corredor de ônibus Itapevi-São Paulo conectando as duas áreas. No entanto, o trajeto de 30 km não está concluído e o trecho que está pronto não entrou em operação.
Apelidado de Corredor Oeste, a faixa continua em situação semelhante à mostrada pela Agência Mural em junho de 2019, com a diferença de que os terminais de ônibus foram inaugurados.
Quem observa a estrutura abandonada não imagina que o corredor, que atravessa as cidades de Itapevi, Jandira, Barueri, Carapicuíba e Osasco rumo ao terminal Butantã, na zona oeste de São Paulo, é o segundo maior investimento da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) previsto para 2022, com R$ 138,4 milhões -perde apenas para investimentos da empresa em Santos, no litoral.
"Não sabia que existia esse corredor", diz Weslley Nascimento, 24, que mora a poucos metros da obra da EMTU. "Nenhum ônibus para nesse ponto [do canteiro central]. Na verdade, ele está abandonado", conta.
Para a aposentada Antonina Souza, 79, que utiliza as linhas da EMTU para ir de Carapicuíba a Osasco, a redução de 20% no tempo médio de viagem prevista pelo corredor facilitaria a rotina.
"A viagem demora uns 30 minutos, às vezes tem trânsito e demora mais", conta a aposentada. "O ônibus não anda em faixa exclusiva, seria bom ter o corredor, para evitar o trânsito e chegar mais rápido".
Mais do que um simples percurso entre os cinco municípios da Grande São Paulo com destino à capital, o projeto da EMTU, iniciado em 2011 e com custo total estimado em R$ 457 milhões, promete a reorganização do transporte público da região oeste.
Na avaliação da empresa, a região é caracterizada por avenidas pouco estruturadas, integração deficiente entre os modais de transportes e travessias inadequadas para pedestres.
Nos 30 km entre as cidades, a obra prevê a implementação de 22,7 km de faixas exclusivas para ônibus entre Itapevi e Osasco, além da construção de terminais, viadutos e passarelas. O projeto cita também um plano de integração com os municípios para a instalação de ciclovias e bicicletários.
Em 26 de junho, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), autorizou o início das obras do viaduto Carapicuíba, trecho do corredor que ligará o município a Osasco. Com previsão de conclusão para o final de 2023, o elevado tem previsão de investimento de R$ 66,9 milhões.
"Demos um passo importante para o corredor ficar pronto, melhorar a fluidez do trânsito e a segurança do transporte", disse Garcia em evento a três meses das eleições.
A previsão inicial era de conclusão em 2014. No entanto, uma década após o início das obras do corredor Itapevi-São Paulo, foram poucas as promessas da EMTU que saíram do papel e se materializam na rotina dos moradores da região.
Entre Itapevi e Jandira, o trecho serve mais aos carros do que aos ônibus. De Jandira a Carapicuíba, as faixas exclusivas para os coletivos foram finalizadas no início de 2020, assim como os oitos pontos de ônibus no canteiro central.
Porém, a estrutura segue abandonada e sem sinalização. Como consequência, os ônibus seguem circulando pela faixa da direita e as paradas no centro da avenida tornaram-se abrigo para pessoas em situação de rua.
A EMTU afirma que a estrutura não está sendo utilizada porque os ônibus que trafegam pelo trecho não possuem portas do lado esquerdo, impedindo a parada nos pontos do canteiro central.
Entretanto, o projeto da empresa de transportes de 2011 prevê a substituição de 1.200 veículos comuns para mil ônibus articulados, trazendo uma "otimização da frota e aumento da oferta de lugares em 80%, e economia de combustível com aumento da oferta de viagens".
Além disso, os moradores de Carapicuíba aguardam a construção da passarela para pedestres que ligará o terminal de ônibus, cruzando a estação de trem, até as escolas do lado norte da estação, como as Etecs (Escolas Técnicas Estaduais) e Fatec (Faculdades de Tecnologia).
A passarela, que tem custo previsto de R$ 14 milhões e deveria ter sido concluída em 2021, faz parte do projeto de modernização do terminal municipal de Carapicuíba. Em junho do ano passado, o terminal foi inaugurado pelo ex-governador João Doria (PSDB), porém o espaço destinado para passagem de pedestre é hoje um canteiro de obras.
Já em Barueri, onde projeto inicial mostra uma estação de transferência no centro da cidade, houve desistência da obra. Após tapumes cercarem o espaço perto da estação de trem por anos, a avenida foi ampliada sem nenhuma parte dedicada ao corredor.
Os terminais de ônibus foram entregues: um no centro de Carapicuíba, um no limite entre o município e Osasco (o terminal Luiz Bortolosso) e o terminal da Vila Yara, quase na capital, que foi reformado.
No Luiz Bortolosso, contudo, não há passagem acessível entre o terminal e a estação de trem General Miguel Costa . Quem desce do ônibus precisa sair da parada e entrar na estação que não possui escada rolante nem elevador.
O QUE DIZ A EMPRESA METROPOLITANA
A reportagem procurou a STM nove vezes, por telefone e email, questionando a pasta sobre os problemas encontrados.
A EMTU afirma que o corredor que aparece no mapa está pronto e que apenas não está em uso. "Apenas o trecho de 2,2 km, que prevê a ligação do terminal de Carapicuíba até o terminal Luiz Bortolosso (km 21), não foi concluído, como consta pontilhado no mapa", diz a empresa.
No entanto, a parte pontilhada no mapa não se refere a esse trecho e, sim, à parte seguinte, que vai do terminal Luiz Bortolosso até a Vila Yara.
Além disso, no mapa consta que as faixas pontilhadas são "trecho do viário com tráfego compartilhado" e não uma obra em andamento.
Sobre o trecho em obras em Carapicuíba, a empresa cita que a conclusão está prevista para o final de 2023. "As tratativas com as prefeituras estão em andamento para que tanto os ônibus municipais quanto os ônibus metropolitanos estejam adequados para utilização do corredor".
A EMTU ressalta que os terminais da Vila Yara e Luiz Bortolosso estão em funcionamento. No caso da outra estação que haveria em Barueri, a empresa diz que foi opção da gestão municipal. "Por decisão da Prefeitura Municipal de Barueri, a Estação de Transferência de Barueri não foi implantada e as pistas no local foram ampliadas."
Por fim, a empresa diz que no trecho que passa pela cidade de Osasco, estão previstos investimentos de R$ 161 milhões, mas que a obra ainda depende de "desapropriações, obras e licenças ambientais".
Procuradas, as prefeituras de Itapevi, Jandira, Barueri e Carapicuíba não responderam até a publicação desta reportagem.