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Editorial da retomada do jornal, narrando todo o processo para a sua volta às bancas de todo o país

Por Cláudio Magnavita

Equipe do Correio da Manhã junto com o neto de Niomar, Mauro Sodré, e o jornalista Ricardo Cota, nas comemorações realizadas no Hotel Fairmont Copacabana

Em 11 de setembro de 1969, o Correio da Manhã publicava sua última edição com Niomar Moniz Sodré Bittencourt como diretora do jornal. Na capa, um editorial bem chamativo, com o título “Retirada”, dando uma prova de amor ao “Correio da Manhã” e aos seus colaboradores. Enfrentando o ferro e o fogo de um regime ditatorial que odiava a imprensa livre e que submeteu não só parte da redação, como também o seu corpo diretivo ao cerceamento da liberdade, o jornal sofreu um estrangulamento econômico que resultaria no seu fechamento. O regime sairia vitorioso.
Uma das técnicas utilizadas pelos inimigos da imprensa é exatamente tentar cortar o oxigênio financeiro dos jornais impresso, prática que, sem pudor, está sendo reeditada 50 anos depois, tentando colocar de joelhos, perante o poder divino dos governantes, os jornais que desafiam a lógica dos recém-encastelados no poder.
Como boa baiana, Niomar profetizava: “Acredito que em breve teremos novamente o nosso jornal, o jornal que Edmundo e Paulo Bittencourt legaram a este país como a instituição mais poderosa na defesa da liberdade e da verdadeira democracia”. Naquele dia o jornal dos jornalistas entrava em sono profundo.
Exatamente 50 anos depois, em 13 de setembro de 2019, o jornal acordava com o som das rotativas, que novamente imprimem no papel a sua marca, trazendo para o seu cabeçalho e expediente os nomes dos fundadores e da sua aguerrida presidente. Foi a retomada de um ciclo feitos por princípios do bom jornalismo e respeito às gerações que transformaram o “Correio da Manhã” em um referencial.
Coincidentemente, também em uma era com nuvens muito similares às de 1969, com o contraditório sendo criminalizado e a imprensa livre enfrentando uma forte oposição. Um ambiente bem favorável para que o “Correio da Manhã” voltasse a circular sendo o verdadeiro “Correio da Manhã”. Hoje, com as novas tecnologias, teremos o impresso, porém nos libertamos das limitações do papel.
Várias coincidências marcaram esta extensa trajetória entre o fim do jornal, no meio do século XX, e a retomada, no início do século XXI. A retirada ocorreu sob o comando de uma baiana e a volta, exatamente 50 anos depois, ocorre também pelas mãos de um baiano, que, como Niomar, também é nascido em Salvador. Um DNA que facilita perceber estas sinalizações de missões que são outorgadas pelo destino.
Não poderia existir um momento melhor para o “Correio da Manhã” acordar e voltar a ocupar o seu espaço no cenário nacional. Um jornal com a sua garra, independência e coragem é gênero de primeira necessidade.
(Publicado na edição histórica de retomada do Correio da Manhã, número 23438 de
13 a 19 setembro de 2019.)

Foto principal: Eduarda Flores


CM - À esquerda, a capa da última edição do Correio publicada pela Dona Niomar. À direita, a capa da edição de retomada, publicada por Cláudio Magnavita.