Jennifer Lawrence, sempre voraz
Oscarizada aos 22 anos, atriz, hoje com 35, passa pelo Festival de San Sebastián para buscar prêmio honorário pelo simbolismo de seu talento no olhar de plateias juvenis
Quando seu Oscar chegou, na esteira do sucesso de "O Lado Bom da Vida", Jennifer Lawrence tia completar 23 anos e, na sequência, da estatueta, emplacou experimentos de risco, com cineastas como Darren Aronofsky ("mãe!") e Adam McKay ("Não Olhe Para Cima"). Sucessos do naipe da franquia "Jogos Vorazes" (2012-2015) não se contabilizaram mais em sua estrada artística. Ainda assim, sempre que ela aparece, uma molecada enxerga em sua empoderada figura um ícone de afirmação feminina, o que justifica o troféu honorário que receberá nesta sexta-feira no Festival de San Sebastián.
É um reconhecimento de uma carreira que alcançou os holofotes há 15 anos, com "Inverno na Alma". Antes do tributo (que ano passado ficou com Cate Blanchett e Javier Bardem), nesta quinta, a Espanha abre grade em sua mais respeitada maratona de filmes para conferir o show de atuação de Jennifer em "Morra, Amor" ("Die, My Love"), de Lynne Ramsay, em que contracena com Robert Pattinson, Sissy Spacek e Nick Nolte. A produção concorreu à Palma de Ouro de Cannes.
Fazia um tempinho que a atriz de 35 anos não atraia holofotes, uma vez que seu trabalho de maior vulto anterior, a comédia "Que Horas Eu Te Pego?", de 2023, naufragou no interesse de seu fã-clube. No novo longa, ela e Pattinson foram um casal errático, às voltas com a criação de um filho, ainda bebê. Na vida real, Jennifer é mãe de dois meninos, frutos de sua união com o galerista e artista plástico Cooke Mahoney.
"Ser mãe modifica cada decisão da gente. Eu não sabia que poderia sentir algo tão forte quanto a maternidade, o que me abriu um mundo novo", disse Jennifer a Cannes.
Baseado no livro "Morra, Amor", de Ariana Harwicz, o longa de Lynne Ramsay (diretora escocesa conhecida por "Precisamos Falar Sobre o Kevin") é um ímã de lágrimas, bem ao estilo do que San Sebastián gosta, com seu apreço por folhetins e dramas viscerais. Na trama, Grace (Jennifer) luta para preservar a sanidade em meio a uma crise nervosa que se agrava conforme seu casamento com Jackson (Pattinson) se esfacela. A rotina materna agrava sua desarmonia interna, alimentada pela inércia do lugar onde vive: uma zona rural de hábitos provincianos. Seu único apoio vem da afetuosa sogra Pam, personagem vivida por Sissy Spacek, atriz celebrizada na década de 1970 pelo terror "Carrie, A Estranha" (1975) e contemplada com o Oscar, em 1981, por "O Destino Mudou Minha Vida".
"É um filme sobre um processo de renascimento. Era difícil diferenciar onde era a personagem e onde era eu, em relação ao papel de mãe", disse Jennifer na Croisette.
Nesta quinta-feira (25), um outro achado de Cannes, "Vie Privée", de Rebecca Zlotowski, pede passagem a San Sebastián. Uma promessa de bilheterias milionária e indicações ao Oscar este thriller com um sagaz bom humor arranca uma atuação luminosa de Jodie Foster e apresenta o (ex futuro) casal mais fofo deste festival, formado por ela e por Daniel Auteuil. A estrela de "O Silêncio dos Inocentes" (1991) vive uma psiquiatra que suspeita de um possível assassinato envolvendo a morte de uma paciente. Auteuil vive um oftalmologista com quem ela foi casada e os dois têm um benquerer e um tesão ativos. Ele vai apoiá-la numa abilolada investigação. O papa do documentário americano Frederick Wiseman faz uma participação especial.
Em sua reta final, San Sebastián consagrou o longa policial japonês "SAI: Disaster", de Yutaro Seki, no qual uma policial dedica anos de sua vida para desvendar uma série de assassinatos ligados a um homem performático, que vai de professor de matemática a operário para matar. É um dos roteiros de maior impacto entre os títulos da competição pela Concha de Ouro, que tem entre seus favoritos "Belén", da atriz Dolores Fonzi, baseado num caso real da Argentina, sobre uma jovem que foi presa sob a acusação de cometer um aborto - o que não fez. O júri presidido por J.A. Bayona anuncia neste sábado quem ganha o quê.
