Rachado entre dois jingles, de um lado o "Collorir pra mudar", do outro "Lula lá, brilha uma estrela", o Brasil de 1989, às vésperas de sua primeira eleição presidencial democrática após 21 anos de ditadura, passou dez dias a cantarolar "É o 26! É o 26! Com Silvio Santos chegou a nossa vez". Naquele ano, entre o finalzinho de outubro e a segunda semana de novembro, às vésperas de o país ir às urnas, o maior comunicador da história da televisão latino-americana fez de seu carisma um trampolim para o Planalto. Citava entre as prioridades básicas de seu plano de governo ações nas áreas de alimentação, saúde, habitação e educação, além de um ataque à inflação alta e a correção no salário mínimo.
Os reclames publicitários de seu projeto rumo à Brasília atestavam: "Agora o povo está contente/ Já temos em quem votar". Até o TSE impugnar sua candidatura, alegando irregularidades no registro de seu partido (o PMB) e vínculo com um canal de TV (o SBT), o camelô mais midiático das Américas tirou votos do PT e do PRN de Collor e fez seu fã-clube sonhar em vê-lo com a faixa de Presidente da República. Foi um período conturbado para o apresentador, para seus adversários e para a democracia, com episódios dignos de sátira política ou de thriller.
No entanto, a versão que o longa-metragem recém-rodado "Silvio Santos Vem Aí" promete trazer desse tempo é de riso, é de afeto e é de brasilidade - a santíssima trindade de valores que fizeram de Leandro Hassum a maior diversão.
"Falou 'domingo', pensou Silvio Santos, um artista que, embora todo mundo imite - menos eu -, é inimitável. Quanto mais eu tento não fazer o Silvio neste filme, mais Silvio eu fico", diz o ator de 51 anos, campeoníssimo de bilheteria, ao receber o Correio da Manhã no set de seu novo longa, nos estúdios da Quanta, em São Paulo.
"É engraçado que eu fiz a Aracy de Almeida (cantora e jurada do "Show de Calouros") no teatro e, agora, estou fazendo o Silvio. É mais uma reinvenção para mim, que me desafio sem medo dos processos criativos. Fui desafiado quando fui para a TV. Fui desafiado quando virei pai. Tô no desafio agora de ser avô, com uma netinha de meses. E fui desafiado quando resolvi encarar o cinema e virei blockbuster. O desafio aqui é respeitar a figura de um homem muito autêntico".