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O outro lado autoral de Gabriel Aragão

Um multi-artista que comprova sua versatilidade. Este é "Abrecaminhos", primeiro EP solo de Gabriel Aragão. O trabalho musical vem na sequência da incursão literária do artista com o romance "O Livro das Impermanências" (Editora Letramento) e do lançamento da trilha para o filme "Malhada Vermelha". O EP já pode ser ouvido nas principais plataformas de música.

Integrante da banda Selvagens à Procura de Lei, referência no indie rock nacional, Gabriel Aragão revela outras facetas de seu trabalho autoral em quatro faixas, incluindo a inédita "Toca o Barco", que também ganha um clipe.

O EP surgiu durante o auge da pandemia e isolamento social, com cada músico e equipe trabalhando e gravando direto de seu estúdio caseiro. Tudo aconteceu sob o comando do produtor Paul Ralphes, que assinou as gravações dos Selvagens e tinha familiaridade e sintonia com a forma como Aragão gosta de trabalhar. Essa naturalidade se transferiu para o repertório, uma coleção curta, porém potente de composições inéditas do cantor e compositor.

"Dentre as canções que escrevi nesse período, sobras que não foram gravadas pelos Selvagens, rascunhos e novas parcerias, minha escolha se baseou num conceito muito específico, mas que permeia toda minha trajetória até aqui: o mar. Acho que o fato de ter me isolado na cidade de São Paulo, passado por dois invernos em isolamento com um filhinho recém-nascido, com uma vista para prédios e quase nada de luz solar e céu azul, me fez escrever não exatamente 'sobre o mar', mas 'através do mar'", reflete o músico, que é cearense de Fortaleza, uma cidade litorânea.

Mas nem todas as composições do EP nascem da solitude. "Toca o Barco" veio da notícia trágica da morte do jornalista Ricardo Boechat. "Gostava muito do Boechat. Ouvia toda manhã suas impressões na Band News FM e adorava sua frase encorajadora que servia de empurrãozinho pros ouvintes seguirem o dia: 'toca o barco!'. A música então, gravada posteriormente no contexto da pandemia, acabou virando algo maior que o luto por uma pessoa específica, mas um sentimento coletivo (o que, de certa forma, acredito, dialoga com a missão de jornalista)", acredita o compositor.

As demais canções do EP seguem a mesma ideia de vulnerabilidade emocional. "Se Você Quiser", primeira parceria com Roberta Campos, foi inspirada nos relacionamentos durante a pandemia, com muitas separações, momentos difíceis, mas, ao mesmo tempo, celebrando quem conseguiu se reconstruir. "Dia Cheio", que também ganhou um clipe, foi escrita quando Gabriel estava numa praia em Fortaleza, com uma letra abstrata que reflete sobre a passagem do tempo e a mortalidade. Só depois de gravada foi que ele notou um paralelo interessante: um dos sucessos com os Selvagens à Procura de Lei, quando tinha 20 e poucos anos, se chama "Tarde Livre". Agora, com a chegada dos 30 e da carreira solo, vem "Dia Cheio", um retrato fiel de momentos como a adultez e a paternidade.

"Até pouco tempo não tinha certeza de que nome batizar o trabalho. Chamei de 'Mar Sem Fim", de 'Velhos Caminhos, Novas Portas', mas por algum motivo não batia. Me voltei então pro pessoal. Uma frase que durante todo esse período de Covid-19 eu dizia pra mim mesmo, como um talismã, era algo do tipo 'vamo nessa, abre caminhos'", completa Gabriel.

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