Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Globo exibe 'O Príncipe Esquecido', com o astro de 'Lupin' sob a direção do realizador de 'O Artista'

Omar Sy gravita entre um mundo de fantasia e a realidade em 'O Príncipe Esquecido' | Foto: Divulgação

Estrela de um dos títulos mais badalados da última Berlinale ("The Stranger's Case"), dono de um público cativo na Netflix, graças à série "Lupin", Omar Sy terá uma "Sessão da Tarde" toda só pra ele nesta quarta-feira (6), na TV Globo, com "O Príncipe Esquecido". A exibição: 15h30. É um filmaço não só pela potência plástica de sua narrativa, mas, sobretudo, pelo desempenho de seu protagonista, num território de fábulas.

Contudo, por culpa da pandemia da covid-19, essa suntuosa produção virou uma mágoa no coração do cinema europeu, pois iniciou sua trajetória comercial quando as salas de projeção foram fechadas. Agora, via televisão, a saga de amor paterno protagonizado por Sy ganha uma segunda chance de alcançar multidões.

"Estou sempre atrás de filmes capazes de expor o jogo de máscaras que disfarça o preconceito na França, no mundo", disse Sy, em passagem pela Berlinale, quando a atração desta quarta da mais longeva sessão de cinema na TV aberta do país era produzida.

Sy é filmado pelo o cineasta francês Michel Hazanavicius, que entrou para a posteridade de Hollywood há exatamente dez anos, depois de conquistar o Oscar por "O Artista" (2011). Ele está finalizando a animação "La plus précieuse des marchandises", adaptação da prosa de Jean-Claude Grumberg sobre bastidores do campo de concentração de Auschwitz. A trama narra a batalha de um jovem para sobreviver ao Holocausto. Elementos fantásticos cruzam sua jornada, assim como se vê em : "O Príncipe Esquecido" (no original: "Le Prince Oublié").

Inédito em cinemas no Brasil, essa fantasia orçada em 20 milhões de euros (uma fortuna para os custos do Velho Mundo no audiovisual) se apoia no carisma de Sy para investigar o universo dos contos de fadas nestes tempos de i-Phones, Android e i-Pads. Era um blockbuster nato, fabricado para arrebatar (e pra comover) multidões. Mas teve o infortúnio de ter sido lançado às vésperas do lockdown global por conta do coronavírus, há dois anos. Com isso, cifras milionárias foram reduzidas à venda de 907 mil ingressos.

"É um filme para emocionar crianças, adultos, idosos. Inegavelmente, nós fizemos o que se chama de 'filme família', pois tentamos conversar com os públicos infantojuvenis, a partir de criaturas mágicas e situações fantásticas. E tentamos, ao mesmo tempo, falar com os adultos, pelo prisma da angústia do ninho vazio, do desapego dos filhos quando eles adolescem, dos conflitos da paternidade", disse Hazanavicius ao Correio da Manhã em uma entrevista em Paris, promovida pelo fórum Rendez-vous Avec Le Cinéma Français. "Pouco antes do lançamento, eu fui levar meu caçula para uma projeção de teste do longa, e ele ficava me cutucando, dizendo: 'Pai, isso aqui tem a ver com o senhor não tem não? É a sobre a gente, né'. Danado esse meu garoto. Ele percebeu a dinâmica de buscar diálogo com as mais variadas faixas de público, mas preservando uma reflexão crítica existencial".

Na França, há uma década, 3.064.892 foram ao circuito aplaudir "O Artista", cujo faturamento esbarra em US$ 133 milhões. Antes de sua homenagem ao cinema mudo, Hazanavicius já fazia fortunas com a franquia "OSS 117", num par de longas que dirigiu em 2006 e 2009, com Jean Dujardin na pele de um atrapalhado espião. O primeiro, "Uma Aventura no Cairo", somou 2,2 milhões de espectadores. O segundo, "O Rio Não Responde Mais", rodado em solo carioca, atraiu 2,5 milhões de fãs de Dujardin. E, não satisfeito com cifras altas, o cineasta parisiense de 56 anos ainda se meteu a desafiar um mito da Europa, o diretor Jean-Luc Godard, na comédia "O Formidável", que lhe rendeu uma indicação à Palma de Ouro e um mar de elogios."Custei a montar conexões entre meus filmes, por serem bem diferentes entre si. Contudo, ao mergulhar na história de Godard, notei que estou sempre correndo atrás de personagens desconectados, sem lugar estabelecido na lógica do mundo, como é o personagem de Omar em 'O Príncipe Esquecido'... como somos nós, pais", brincou o diretor, que veio ao Brasil, há cinco anos, participar do Festival do Rio.

Quem sintonizar na Globo hoje à tardinha vai acompanhar o talento de Hazanavicius em sua química com Sy, nos sets. O ator brilha no papel de Djibi, um contador de histórias profissional, que embala os sonhos de sua filha, Sofia (a ótima Sarah Gaye), com fábulas nas quais ele é um nobre guerreiro, cercado por criaturas nada ortodoxas como um ser de plástico cujo corpo serve de aquários para peixinhos coloridos. Em seu reinado, ele é amado por todos. Isso, pelo menos, até Sarah entrar na adolescência e começar a se incomodar com o jeitão abilolado e infantilizado de seu pai.

A situação dele piora quando ela se apaixona por um coleguinha de sala e passa a ignorar a companhia paterna. O rapaz se torna o novo príncipe, o que põe o reino de Djibi em risco de destruição, abrindo uma deixa para um vertiginoso tom de aventura. Em paralelo, o personagem de Sy, entrado em um modo decadência, começa a travar uma relação com uma vizinha sem noção interpretada pela atriz Bérénice Bejo, mulher de Hazanavicius na vida real.

"Tentamos apostar em efeitos visuais inusitados para o que a Europa costuma fazer", disse o cineasta. "A gente conta com uma boa história... e, melhor, temos Omar Sy".

 

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