Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Premiados e imperdíveis nas telonas

O Sabor da Vida | Foto: Divulgação


Blockbusters natos como "Os Farofeiros 2" não largam o osso do circuito exibidor brasileiro, que se encantou por "Guerra Civil", do inglês Alex Garland, à força do desempenho de Wagner Moura no papel de um repórter em busca de entrevistar o presidente dos EUA. O ótimo filme de vampiro "Abigail" morde jugulares em nossas salas enquanto Godzilla e King Kong saem no tapa com outros monstros. Nesse cenário, o circuito encontra espaço para produções de narrativa refinadíssima, que saíram premiadas de festivais ou de eventos como o César, o Oscar da França. Confira.

20.000 ESPÉCIES DE ABELHAS, de Estibaliz Urresola Solaguren: Produção espanhola laureada com 34 prêmios pelo mundo afora desde seu lançamento. Em sua trama, uma criança de oito anos luta com o fato de que as pessoas continuam se dirigindo a ela de maneiras confusas, a despeito de sua orientação sexual. Durante um verão no País Basco, entre as colmeias e as abelhas, ela explora sua feminilidade ao lado das mulheres de sua família que, ao mesmo tempo, refletem sobre suas próprias vidas e desejos. Sofía Otero, a protagonista deste belo filme, venceu o Urso de Prata de Melhor Atuação Principal no Festival de Berlim 2023.

A NATUREZA DO AMOR ("Simple Comme Sylvain", de Monia Chokri (Canadá): Um estudo avassalador sobre a incontinência do amor a partir das inércias que o prejudicam. Uma professora de Filosofia (Magali Lepine-Blondeau) passou dez anos mornos, mas, fiéis, ao lado de um namorado socialmente perfeito para seu status. Mas o convívio súbito dela com um pedreiro faz-tudo vai mudar sua forma de saber querer e de se deixar cuidar. Ganhou o César de Melhor Filme Estrangeiro.

A PAIXÃO SEGUNDO GH, de Luiz Fernando Carvalho: Maria Fernanda Cândido brinda o cinema com seu talento e carisma numa atuação solo em que reage, com uma suavidade de gestos, ao texto de Clarice Lispector (1920-1977), publicado em 1964. A trama esbanja existencialismo. Conquistou os prêmios de Melhor Filme e Melhor Atriz na mostra Internacional do Bafici, em Buenos Aires.

SEM CORAÇÃO, de Nara Normande e Tião: Prêmio de Melhor Fotografia no Festival do Rio 2023, este drama geracional ambientado na década de 1990. No enredo, Tamara (Maya de Vicq) está aproveitando suas últimas semanas na vila pesqueira onde mora antes de partir para estudar em Brasília. Um dia, ouve falar de uma adolescente apelidada de "Sem Coração" por causa de uma cicatriz. Ao longo do verão, Tamara sente uma atração crescente por essa menina.

ZONA DE EXCLUSÃO, de Agniezka Holland: Filme mais festejado da diretora de "Filhos da Guerra" (1990) e "A Sombra de Stalin" (2019). Rendeu a ela o Prêmio Especial do Júri do Festival de Veneza. Sua trama fala de crises políticas diversas. Sua personagem central, a psicóloga Julia torna-se testemunha involuntária e participante de acontecimentos dramáticos na fronteira com Belarus, depois de se mudar para Podlasie, na Polônia.

O SABOR DA VIDA, de de Tran Anh Hùng (França): Foi merecidíssimo o prêmio de Melhor Direção dado por Cannes ao realizador vietnamita responsável pelo aclamado "O Cheiro da Papaia Verde" (1993). Um diretor que estava há uns sete anos sumido do cinema. Ele regressa reunindo um ex-casal que se amou muito fora das telas - Juliette Binoche e Benoît Magimel - para encarnar um quase casal que se adora apaixonadamente na telona, mas que não se casa para não se dobrar aos ditames morais da França do século XIX. Dodin (Magimel, sublime) é um gourmet com alta respeitabilidade na rica burguesia francesa, sendo bem tratado até por nobres, em função dos banquetes que oferece. É Eugenie (Juliette) quem cozinha os quitutes. Mas quando ela fica doente, ele resolve cozinhar para sua amada. É um tratado comovente sobre o benquerer.