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Nas fendas e cicatrizes da pintura

A exposição de Luiza Gottschalk traz mais de uma dezena de pinturas voltadas a imagens alusivas às entradas de bosques e troncos | Foto: Divulgação

A artista plástica paulista Luiza Gottschalk apresenta no Centro Cultural Municipal Parque Glória Maria (Parque das Ruínas), em Santa Teresa, a mostra "Sol", reúne de forma inédita em conjunto os trabalhos da série Woods, que tiveram sua produção iniciada em residência realizada pela artista em Nova Iorque no ano passado.

A exposição traz mais de uma dezena de pinturas voltadas a imagens alusivas às entradas de bosques e troncos de árvores, que complexificam a lógica em torno de uma relação dada entre sujeito e objeto e parecem empurrar a materialidade da tinta para fora da tela. Fendas dos planos pictóricos, esses troncos escuros reservam algo de uma cicatriz da pintura e são resultado de experimentos inéditos produzidos pela artista, representada a partir das camadas de tinta retiradas da sua técnica de inserir panos mediadores do contato entre a tinta e a tela.

"Testei alguns experimentos a partir da minha técnica com os tecidos. Foi daí que entrei nesses espaços, que me remetem à entrada de um bosque. Na medida em que você entra, vê esses troncos na contraluz. Gosto muito que a própria materialidade da pintura que envolve esses troncos vem da camada de tinta retirada a partir da técnica com os tecidos. Ficam quase como fendas, cicatrizes, que, quando olhadas com certa atenção, admitem dimensões espaciais distintas, fazendo dela uma fenda para outra dimensão temporal e espacial - quase um outro universo que se entrelaça e coabita", explica a artista, que falará ao público no próximo dia 17.

Graduada em Artes Cênicas pelo teatro-escola Célia Helena (2001), em artes Plásticas pela FAAP (2014) e pós-graduada em Artes Visuais pela FAAP (2018), Luiza ganhou os 46º e 47º prêmios da anual de artes no Museu de Arte Brasileira (MAB). Com individuais em Nova Iorque, São Paulo, Brasília e Minas Gerais, sua pintura se desdobra, sobretudo, a partir de investigações relacionadas à natureza e aos rios.

Trouxe da mata da Serra da Mantiqueira, onde morou até os nove anos de idade, o olhar para uma paisagem de vocação aquática, trabalhada plasticamente enquanto a fantasia de uma mata fechada que se confunde formalmente entre plantas, flores e rios. Luiza diz que a primeira pintura que viu na vida foram os liquens das árvores do bosque vermelho, e não é sem motivo que a cor tenha se transformado no norte da sua produção pictórica, desenvolvida em meio a uma técnica singular de inserir panos e água enquanto mediadores da relação entre a tela e a tinta.

SERVIÇO

SOL

Centro Cultural Municipal Parque Glória Maria (Rua Murtinho Nobre, 169 - Santa Teresa)

Até 18/10, de terça a domingo (9h às 18h) | Entrada franca