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Uso excessivo da Internet dificulta estudo sobre transtornos mentais

Leonardo Xisto faz alerta sobre o uso da internet | Foto: Divulgação

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que uma em cada sete crianças e adolescentes entre os 10 e os 19 anos (14%), sofrem de problemas de saúde mental. Mas, de acordo com o psiquiatra Leonardo Xisto, o uso exagerado da internet pode dificultar os diagnósticos de transtornos mentais. "Alguns transtornos como , ansiedade, depressão e déficit de atenção podem ser mascarados devido ao 'alívio' momentâneo que a retenção da atenção e interesse pelo conteúdo pode causar", disse o médico.

Conforme Xisto, a internet proporciona uma fuga da realidade, que pode atenuar o sofrimento dessas doenças. O psiquiatra explica que alguns transtornos podem ser causados por um excesso de pensamentos, sejam de preocupações ou aleatórios, de intensidades variadas, e o uso excessivo de telas traz a sensação de que esses pensamentos se acalmam. "Nesse processo, são liberadas substâncias cerebrais, chamadas neurotransmissores, que geram interesse, causam sensação de prazer e mantêm o adolescente 'preso' nas redes. Sendo assim, aliviam algo que necessitaria de sua atenção e, com isso, pode não desenvolver adequadamente a capacidade de lidar com esses pensamentos acelerados, preocupações e tudo que venha a se tornar um transtorno", destacou.

A psicóloga Thais Aparecida Gomes reafirma a opinião do médico sobre a dificuldade de diagnóstico de adolescentes a partir do uso excessivo de internet. "Um humor deprimido, por exemplo, pode ser normalizado a partir do princípio de que o mesmo já está habituado a ficar mais 'quieto' quando está imerso em jogos, bate-papo e outras atividades na internet, e acabar assim passando despercebido pelos pais ou responsáveis", afirma.

Thais enfatiza que, muitas vezes, o uso de telas pode passar a falsa impressão de alívio, pois o adolescente utiliza a internet como um escape ou uma fonte de prazer. "Sendo assim, ele encontra nela um lazer que pode acabar passando a sensação de distração, mudando o foco, por exemplo, da ansiedade, sem saber que ela pode estar colaborando ainda mais para aumentar os níveis e sintomas ansiosos. Além disso, o tempo excessivo nas redes sociais, por exemplo, pode ser um facilitador na procrastinação, irritabilidade, impaciência, falta de concentração, entre outros sintomas característicos dos sintomas de ansiedade", explica.

Redução no tempo de uso

A melhor forma para utilização da internet, conforme o psiquiatra, é reduzir o tempo de uso de telas até o máximo de idade possível, além de evitar totalmente até os 12 anos. "A transição da infância para adolescência é um momento importante para o neurodesenvolvimento, fase essencial para se desenvolver responsabilidades e habilidades interpessoais. Utilizar a internet para adquirir conhecimento genuíno deveria ser o foco principal e, talvez, o único, para um adolescente utilizar esses dispositivos de maneira saudável", destaca.

Xisto recomenda que os pais busquem ajuda sempre que perceberem sofrimentos ou prejuízo na vida dos adolescentes. E acrescenta que é importante que as orientações comecem na infância. "O intuito é que eles próprios tenham ciência dos impactos negativos que isso pode causar em sua vida", diz.

A psicóloga orienta que a utilização da internet, em especial das redes sociais, deve ser, sempre que possível, monitorada pelos pais e responsáveis. "O objetivo não é fiscalizar ou controlar, mas de ter acesso e assim, poder acompanhar de perto qualquer possível perigo que o mesmo possa enfrentar", enfatiza. O fato de eles usarem muitas vezes as redes sociais como diários também pode ser uma oportunidade para os pais acompanharem algumas questões emocionais.7

Números, segundo a OMS

Dados — A OMS divulga que transtornos de ansiedade (que podem envolver pânico ou preocupação excessiva) são os mais prevalentes entre os adolescentes: estima-se que 3,6% dos jovens de 10 a 14 anos e 4,6% dos jovens de 15 a 19 anos sofram de transtorno de ansiedade. Estima-se que a depressão ocorra entre 1,1% dos adolescentes de 10 a 14 anos e 2,8% dos adolescentes de 15 a 19 anos.

Os distúrbios comportamentais são mais comuns entre adolescentes mais jovens do que entre adolescentes mais velhos. O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), caracterizado por dificuldade de prestar atenção, atividade excessiva e agir sem considerar as consequências, ocorre entre 3,1% dos jovens de 10 a 14 anos e 2,4% dos jovens de 15 a 19 anos.