Por: Leandra Lima

Roseni kurányi usa a escrita como espaço de pensar a existência

Por meio da literatura autora promove criatividade e inclusão | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Por Leandra Lima

A escrita nasceu como um símbolo para expressar as ideias humanas, ela transmite o pensamento além de ser capaz de fortalecer a identidade cultural e individual de uma pessoa. A prática está no cotidiano das pessoas ao redor do mundo, e também está presente em diversas linhas artísticas. Por meio dela é possível criar novos universos, realidades, aprimorar as emoções e a sensibilidade perante o mundo. Entrelaçado com a arte está a literatura, que é a interpretação do que se lê, ela representa a arte das palavras e expressa emoções e ideias. Com essa percepção a escritora petropolitana, Roseni kurányi, acredita que ambas práticas são uma interpretação do mundo. A autora traz em seu trabalho, um ambiente único, criativo, amplo e lúdico, onde as invisibilidades históricas e cotidianas ganham um papel de protagonismo.

Para Roseni a escrita é livre e libertadora, é como se fosse um continuar do pensar, sendo possível reviver, reinventar, questionar e experimentar. A autora começou sua trajetória na Alemanha, se dedicando a escrever histórias e contos infantis que inicialmente eram baseados em seus filhos. Ela também possui obras diversas como romances, suspense entre outros. Kurányi recebeu prêmios pelo seu trabalho nacional e internacionalmente. Em 2012, recebeu da Brazilian International Press Awards em Londres, junto com outros autores brasileiros, a mais importante premiação de cultura brasileira no terreno britânico, um reconhecimento especial por seus trabalhos literários. Seus livros também são usados em escolas, como material paradidático, atualmente o escolhido pela escola Santa Isabel é o "Castelo Invisível" que usa a fantasia para retratar a importância da amizade, compartilhamento, companheirismo e o cultivo dos sonhos.

Trajetória

Roseni conta que a história sempre esteve presente em sua vida. "Desde criança eu ouvia meu pai contar e criar muitas histórias para mim e meus irmãos. Lembro de ir à escola e querer voltar logo para casa para saber da continuação, eu ficava louca, normalmente ele dividia o conto em dois/três capítulos, nisso, minha curiosidade se entendia mais. Ao longo do tempo fui pegando essa característica dele, e passei adiante reunindo a criançada da vizinhança contando para elas minha versão. Esse processo se estendeu por anos, quando tive filhos fazia a mesma coisa que meu pai, porém eu comecei a anotar, palavras soltas ou tópicos do que eu ia falar para eles", disse.

A artista continua relatando que a escrita veio como forma de transbordamento, no momento que se mudou para a Alemanha em 1997, se sentiu em um momento difícil onde teve que se adaptar a uma nova cultura, e se descobrir como uma mulher, mãe e pessoa nesse novo lugar. Nesse período ela se apegou ao diário e começou a escrever sobre si mesma e lembranças do Brasil, que envolviam o pai e a mãe. "Nisso eu comecei a redigir contos, e um deles foi o 'Cheiro de Terra Molhada' que falava da minha mãe. Quando chovia, perto da minha casa tinha um campinho de terra, que molhado ele subia esse cheiro e minha mãe sempre mencionava. Essa memória me reapareceu nesse país que para mim ainda era desconhecido, coloquei para fora da melhor maneira que senti", expressou. Imbuída de saudade, a autora também escreveu uma crônica, agora direcionado ao seu pai, intitulado "O Primeiro e o Último Beijo", esses foram os registros iniciais de seus trabalhos, que a proporcionou reconhecimento internacional, pois ganhou em primeiro lugar com ambos em uma feira literária na Alemanha.

"Costumo dizer que a escrita chegou para mim como um presente, sempre esteve em mim, mas transbordou no momento em que estava me descobrindo, no início eu tinha a síndrome do impostor, não me reconhecia nesse lugar de escritora. Lembro do momento em que eu tive um estalo, foi quando a professora do meu filho elogiou a minha profissão, fiquei em choque por que ele falou que eu era escritora, nesse momento percebi que ele já me enxergava assim, a partir daí só continuei", relata.

Os livros iniciais de Roseni foram voltados para o público infantil, pois pegava inspiração das histórias que contava para os filhos. "Exploro muito a fantasia para passar as mensagens dentro do mundo infantil. As crianças conseguem se identificar e trazer para vida delas as próprias reflexões", fala. Além dos infantis, a escritora possui mais de 30 livros publicados.

Olhando o momento atual da carreira, a artista se sente agraciada, pois superou diversas dificuldades em relação à leitura e escrita durante o tempo de escola. "Repeti o 7° ano quatro vezes, era difícil me concentrar em uma leitura, me sentia burra por não conseguir me adaptar ao ambiente escolar. Com essa frustração sai da escola e tempos depois me apeguei à leitura, e ela me fez voltar a estudar. Ao longo do tempo descobri que tenho dislexia, o que me fez compreender melhor como pessoa, hoje falo muito sobre a condição", diz.

A partir dessa ótica, Roseni busca levar para as pessoas o quão simples e libertador é escrever, "sempre falo que escrever não depende das condições sociais, é importante ser criativo, as histórias simplesmente surgem, é engraçado falar isso, mas é real, elas surgem. Uma vez vi uma reportagem onde uma escritora disse que ela não escolhe as histórias, na verdade são elas que vão até ela, na época achei um bem metido ela dizer isso, mas hoje eu pago a língua por que é a mais plena verdade", expressa.

Flipetrópolis

Roseni kurányi vai estar no primeiro Festival Literário Internacional de Petrópolis (Flipetropolis), nele a artista fará uma palestra sobre dislexia e criatividade. O Flip reúne escritores e escritoras nacionais, locais e internacionais.

"Participar do evento é muito importante para mim, pois estou na minha cidade junto com diversos escritores incríveis que me emocionam. Quando vi que Conceição Evaristo e Ana Maria Machado serão homenageadas me levou para um lugar tão gostoso, pois já as encontrei em um encontro de mulheres escritoras em Nova York e foi muito bom, aquele dia ficou marcado em mim" disse.